O Brasil enfrenta grandes desafios para controlar e influenciar os acontecimentos em sua vizinhança próxima. Estes problemas decorrem da confusão entre os interesses nacionais e os interesses pessoais do presidente da República, bem como do desrespeito aos princípios básicos da política externa.
Tanto em relação à Argentina quanto à Venezuela, o governo agiu com base em afinidades ou antipatias ideológicas, e está sofrendo perdas em ambos os casos. Em ambos os países, o governo brasileiro tentou “ajudar” forças políticas sem ter instrumentos eficazes de influência, na esperança de obter comportamentos “convenientes” dos vizinhos.
Os resultados até agora obtidos são claramente insatisfatórios. Na Argentina, o governo brasileiro tem que lidar com um “rival”, e os interesses comuns entre os dois países estão em segundo plano. Na Venezuela, um governo “amigo” está criando tensões internacionais indesejáveis para o Brasil, seja por fraudar eleições, seja por nutrir ambições territoriais em relação a um país vizinho.
Há uma ironia marcante na coincidência entre Javier Milei, o libertário de direita, e Nicolás Maduro, o ditador de esquerda, ambos ocasionalmente desdenhando publicamente das posições do governo brasileiro. Eles não estão sozinhos: há bastante tempo que nenhuma chancelaria na América do Sul se preocupa muito com as opiniões vindas de Brasília.
O Brasil enfrenta uma situação complicada não apenas por exercer menos influência do que sua geografia e economia sugerem, mas também por estar no meio de uma competição entre polos opostos na política internacional, como exemplificado pela Argentina e pela Venezuela.
As posturas da Argentina e da Venezuela refletem um conflito mais amplo entre a “aliança pró-Ocidental” e o “eixo das autocracias”, no qual o Brasil se encontra literalmente no meio, dependendo tanto das exportações para autocracias asiáticas quanto das importações de insumos, especialmente de defesa e tecnologia agrícola, das democracias ocidentais, às quais pertence por história e valores.
Essa noção de equilíbrio delicado é fundamental para uma potência regional média como o Brasil, com pouca capacidade de projeção de poder. Segundo os princípios das relações internacionais, a maior “proteção” que um país desse tipo pode alcançar está em alianças regionais que aumentem seu peso relativo.
Isso requer um pensamento estratégico, a mobilização eficiente de recursos e, acima de tudo, uma direção e um propósito fornecidos pelas elites políticas e econômicas. Em termos políticos, isso é chamado de “pensar o país”. No momento, estamos distantes disso.