Prefeitos acusam governo de negligência com demandas locais e criticam corte de emendas parlamentares
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi vaiado nesta terça-feira (20) durante a abertura da 26ª edição da Marcha dos Prefeitos, em Brasília. A manifestação de insatisfação partiu de gestores municipais de todo o país, que repetiram o tom crítico do ano anterior e reforçaram o clima de distanciamento entre o Palácio do Planalto e os municípios.
Apesar das vaias, Lula optou por não se manifestar diretamente sobre a recepção adversa e manteve o discurso previamente preparado. O gesto, interpretado por muitos como frieza ou desdém diante do apelo dos prefeitos, gerou ainda mais desconforto entre os participantes do evento, que esperavam sinalizações concretas do presidente sobre as principais demandas das cidades.
Entre as pautas centrais apresentadas está a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 66, que trata da reabertura de prazos para quitação de dívidas previdenciárias e do pagamento de precatórios. Para os prefeitos, a aprovação da PEC é urgente para aliviar a pressão fiscal sobre os cofres municipais — muitos dos quais estão à beira da insolvência.
A desoneração da folha de pagamento dos municípios, tema que motivou vaias a Lula em 2024, permanece sem solução. O silêncio do governo sobre o assunto é visto como indiferença com as dificuldades dos gestores locais, principalmente dos pequenos municípios, que dependem de transferências e emendas para manter serviços básicos.
Congresso assume protagonismo diante de omissão do Planalto
Durante o evento, o presidente da Confederação Nacional dos Municípios (CNM), Paulo Ziulkoski, não poupou críticas ao governo federal. Em um discurso contundente, ele cobrou mais atenção do Planalto às necessidades das cidades e criticou duramente a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de limitar o uso de emendas parlamentares — mecanismo essencial para o financiamento de projetos locais.
“É preciso que o presidente abra o olho”, afirmou Ziulkoski, em referência direta à falta de diálogo entre o Executivo federal e os municípios. Segundo ele, o corte nas emendas compromete investimentos em saúde, infraestrutura e assistência social, agravando ainda mais a crise vivida pelas prefeituras.
Em contraste com o silêncio do presidente, o Congresso deu sinais de maior sintonia com os prefeitos. O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), garantiu que a PEC 66 está na pauta do Legislativo e reafirmou o compromisso da Casa com o fortalecimento do municipalismo. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), também participou da abertura.
Pressão crescente
A Marcha dos Prefeitos tem se consolidado como espaço de pressão institucional, em que gestores de todo o Brasil cobram do governo federal autonomia financeira e condições reais para executar políticas públicas. Em 2025, no entanto, o clima foi marcado pela tensão e pelo visível desgaste da relação entre Lula e os prefeitos.
Com a proximidade das eleições municipais e a crescente insatisfação na base política, a falta de sensibilidade do presidente pode ter custo alto. Enquanto prefeitos e vereadores exigem respostas, o governo parece cada vez mais distante das urgências do Brasil real — aquele que enfrenta diariamente a carência de recursos, a sobrecarga nos serviços públicos e a falta de apoio efetivo de Brasília.