Declaração do presidente durante entrevista na Indonésia provoca críticas e reforça percepção de leniência do governo com o narcotráfico
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a causar polêmica ao afirmar, nesta sexta-feira (24), que “traficantes são vítimas dos usuários também”. A declaração foi feita durante uma entrevista coletiva na Indonésia, transmitida para a imprensa internacional.
Lula tentava criticar a política antidrogas do ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, mas acabou relativizando a responsabilidade dos criminosos. Segundo ele, o combate às drogas deve ter “cuidado” porque “os traficantes também são vítimas dos usuários”.
“Toda vez que a gente fala de combater as drogas, possivelmente fosse mais fácil a gente combater os nossos viciados internamente, os usuários. Os usuários são responsáveis pelos traficantes, que são vítimas dos usuários também”, disse Lula.
A fala repercutiu negativamente entre autoridades de segurança, especialistas e políticos da oposição, que viram um discurso de condescendência com o crime organizado, em um momento em que a violência ligada ao tráfico avança no Brasil e o governo demonstra fraqueza no enfrentamento às facções.
Lula critica Trump e defende “diálogo” com traficantes
Durante a entrevista, Lula também criticou a postura firme de Donald Trump no combate ao narcotráfico internacional. O republicano intensificou operações militares no Mar do Caribe e no Pacífico, com o objetivo de conter o envio de drogas da América Latina para os Estados Unidos.
Trump chegou a dizer que “algo muito sério vai acontecer” caso o fluxo de drogas continue, sugerindo uma ofensiva terrestre na Venezuela. As operações já resultaram na morte de 37 pessoas na região.
Lula, por sua vez, condenou a abordagem militar e defendeu que se deve “prender, julgar e punir”, mas sem “matar as pessoas”. Ele ainda prometeu discutir o tema com Trump, caso o encontro entre ambos se confirme neste domingo (26), na Malásia.
“Você não fala que vai matar as pessoas. Tem que prender, julgar e saber se a pessoa estava traficando. É o mínimo que se espera de um chefe de Estado”, afirmou.
O presidente colombiano Gustavo Petro, aliado político de Lula, também fez coro às críticas a Trump, pedindo “cuidado” para não atingir os “trabalhadores do narcotráfico” — expressão que gerou ainda mais controvérsia.
Declarações reforçam imagem de leniência e desconexão com a realidade
As falas de Lula foram recebidas com indignação por setores da segurança pública e por parlamentares da oposição. Para eles, o presidente mostra falta de sensibilidade com as vítimas da violência e desrespeito às forças policiais que arriscam a vida no combate ao tráfico.
Analistas apontam que o discurso de Lula segue a mesma lógica ideológica da esquerda latino-americana, que tende a culpar o sistema ou o consumo e minimizar a responsabilidade criminal dos traficantes.
Populismo e relativismo moral
Para críticos, as declarações de Lula revelam o mesmo padrão populista e moralmente ambíguo que marcou seus discursos recentes sobre segurança pública e criminalidade.
A fala do presidente ocorre no momento em que o governo é pressionado por recordes de violência em estados do Norte e Nordeste e por críticas à ineficácia das políticas de segurança pública. Enquanto isso, traficantes seguem dominando presídios, bairros e fronteiras, e o governo prefere discursos filosóficos a ações concretas.