Durante o congresso do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), realizado nesta quinta-feira (16) em Brasília, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) voltou a condenar as ações dos Estados Unidos na Venezuela e defendeu o direito dos povos latino-americanos à autodeterminação.
O evento, ocorrido no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, contou com a presença de ministros, líderes partidários e representantes dos partidos comunistas da China e de Cuba. Ao lado da ministra Luciana Santos (Ciência e Tecnologia), Lula exaltou Hugo Chávez e Nicolás Maduro, chamando-os de símbolos de resistência contra o que chamou de “ingerência imperialista”.
“O povo é dono do seu destino”
Em discurso a uma plateia majoritariamente de esquerda, Lula afirmou que nenhum país tem o direito de interferir em outro, criticando diretamente as recentes declarações do presidente norte-americano Donald Trump, que admitiu ter autorizado a CIA a realizar operações secretas na Venezuela.
“O Brasil nunca vai ser a Venezuela, e a Venezuela nunca vai ser o Brasil. Cada um será ele mesmo. O que nós defendemos é que o povo venezuelano é dono do seu destino. E não é nenhum presidente de outro país que tem que dar palpite do que vai ser a Venezuela ou vai ser Cuba. Cuba não é um país de exportação de terrorista.”
A fala foi recebida com aplausos de ministros e parlamentares, entre eles Gleisi Hoffmann, Sidônio Palmeira, Alexandre Silveira, Wolney Queiroz e João Campos.
Críticas à CIA e à ofensiva militar norte-americana
As declarações de Lula ocorrem em meio a uma crise diplomática. Segundo Trump, as operações da CIA visam derrubar o regime de Nicolás Maduro, acusado de envolvimento com o narcotráfico. A Venezuela reagiu e levou o caso ao Conselho de Segurança da ONU, alegando violações de soberania e ataques a embarcações próximas à costa.
Washington, por outro lado, justificou as ações como parte de uma operação internacional contra o narcotráfico latino-americano. Maduro, em discurso recente, acusou os EUA de “matar, derrubar e destruir nações” sob o pretexto de combater o crime organizado.
Lula revisita a “era de ouro” da esquerda
Durante o congresso, Lula relembrou o período entre 2002 e 2010, que classificou como o “melhor momento político da América do Sul”, destacando a ascensão de governos de esquerda no continente. Ele citou Hugo Chávez, Evo Morales e Rafael Correa como exemplos de líderes que, segundo ele, “transformaram a história da região”.
A ministra Luciana Santos, que preside o PCdoB, reforçou o tom antiamericano do evento e criticou o que chamou de “clima de guerra no Caribe”, acusando os EUA de “agir como donos do mundo”.
Contexto político e repercussões
As falas de Lula foram interpretadas por diplomatas como um gesto de alinhamento ao regime de Maduro, em um momento de tensão com Washington. O discurso ocorre um dia após o Partido dos Trabalhadores (PT) divulgar uma nota oficial condenando as ações norte-americanas na Venezuela, classificando-as como “uma afronta à soberania latino-americana”.
O Itamaraty tenta manter a neutralidade, mas analistas alertam que as manifestações públicas do presidente podem complicar a aproximação diplomática com os Estados Unidos — especialmente após o encontro entre o chanceler Mauro Vieira e o secretário de Estado Marco Rubio, que terminou sem acordos concretos.