O influente The Wall Street Journal publicou neste domingo (27) um duro artigo assinado pela colunista Mary Anastasia O’Grady, questionando as autoridades norte-americanas e brasileiras sobre uma grave suspeita: quem criou um falso registro de entrada nos EUA atribuído ao ex-assessor especial de Jair Bolsonaro, Filipe Martins, usado como base para sua prisão no Brasil por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF)?
A matéria, intitulada “Um mistério do CBP aponta para Lawfare”, aponta para adulteração de dados do Departamento de Alfândega e Proteção de Fronteiras (CBP) dos Estados Unidos, que teriam sido utilizados para sustentar a narrativa de que Martins deixou o Brasil de forma clandestina, em dezembro de 2022 — o que já foi desmentido por registros oficiais.
Registro falso apareceu duas vezes
Segundo O’Grady, o formulário I-94 fraudulento apareceu no site oficial do CBP em Orlando, na Flórida, não uma, mas duas vezes desde 2024. Após ser removido em junho daquele ano, voltou a ser publicado em julho de 2025, mesmo após o próprio governo dos EUA reconhecer o erro.
A jornalista se pergunta quem teria interesse em manter o registro falso ativo e sugere a possibilidade de interferência política dentro da CBP em favor de interesses no Brasil, especificamente contra aliados de Bolsonaro.
Prisão de seis meses e restrições
Filipe Martins foi preso em fevereiro de 2024, sob a acusação de tentativa de fuga, com base justamente nesse documento falso. Ele passou 183 dias na prisão, e atualmente está em liberdade restrita, usando tornozeleira eletrônica, sem poder sair da cidade onde reside, impedido de usar redes sociais e de dar entrevistas.
Mesmo após o erro ser reconhecido pelas autoridades norte-americanas, o ministro Moraes não atualizou sua decisão, conforme aponta O’Grady, que critica a insistência do Judiciário brasileiro em utilizar informações já desmentidas para justificar a prisão.
Pressão por delação?
A colunista também sugere que a prisão prolongada pode ter tido como objetivo forçar uma delação de Filipe Martins contra Bolsonaro. Ela lembra que há fracas evidências da suposta tentativa de golpe e menciona que o delator Mauro Cid já recuou de declarações que implicavam o ex-presidente, alegando ter sido coagido.
Em seu depoimento na última semana, Filipe Martins declarou acreditar que sua detenção — “às vezes em circunstâncias desumanas” — visava exatamente isso: pressioná-lo a entregar declarações contra Bolsonaro.
Defesa cobra transparência dos EUA
A advogada de Martins, Ana Bárbara Schaffert, já acionou autoridades dos EUA e entrou com um processo judicial na Flórida, solicitando os dados sobre quem criou o registro falso e quando. Até agora, as respostas foram genéricas e o nome do autor da inserção fraudulenta foi ocultado nos documentos entregues.
“O que é pior? O crime ou o encobrimento?”, pergunta a colunista ao final de seu artigo, reforçando o tom crítico e levantando dúvidas sobre a lisura do processo que levou à prisão de um dos nomes mais próximos de Bolsonaro durante seu governo.
A denúncia do Wall Street Journal levanta um novo capítulo no debate sobre lawfare no Brasil, com potenciais repercussões diplomáticas, judiciais e políticas.