O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) se manifestou, nesta quarta-feira (13), sobre a PEC proposta pela deputada Erika Hilton (PSOL-SP), que visa a redução da jornada de trabalho de seis para quatro dias semanais, com três dias de descanso. Durante uma entrevista ao portal Metrópoles, Bolsonaro fez duras críticas à proposta e, em sua argumentação, conectou a PEC a sua visão sobre questões ideológicas e políticas, mencionando também o que considera um distanciamento do atual governo da realidade e das necessidades da população brasileira.
Crítica ao contexto ideológico e à origens da proposta
Bolsonaro iniciou sua fala comentando o que ele enxerga como a “origem” da proposta, ligando a ideia de jornada de trabalho reduzida ao que ele considera ser uma estratégia do PT e de outros partidos de esquerda para conquistar apoio popular, especialmente das classes mais baixas. Para ele, a proposta de redução da jornada de trabalho está ligada a uma “ideologia” que tenta se disfarçar de uma política de benefícios para os trabalhadores.
“Você tem que ver as origens das questões. Como nasceu a ideologia de gênero, por exemplo? Pessoal só discute, mas tem que saber a origem. Começou em 2009, com um decreto do Lula”, afirmou o ex-presidente. Segundo ele, esse tipo de proposta, como a jornada 4×3, é uma forma de atrair eleitores sem, no entanto, oferecer soluções estruturais para os problemas do país. Ele foi enfático ao dizer que a intenção do PSOL, do PT e do PCdoB é enganar a população com propostas “bonitas” que não resolvem os problemas reais, como o desemprego e a falta de condições adequadas de trabalho.
Visão crítica do modelo proposto pela PEC
Sobre a PEC 4×3, Bolsonaro afirmou que a mudança no regime de trabalho pretendida pela proposta está em desacordo com a Constituição Brasileira, especialmente no que tange ao artigo 7º, que trata dos direitos dos trabalhadores. Para ele, essa modificação poderia ser vista como uma tentativa de manipulação dos trabalhadores, oferecendo uma jornada mais curta e prometendo mais dias de descanso, mas sem discutir as consequências dessa mudança para o mercado de trabalho e para a economia como um todo.
“Aquilo que está sendo proposto [na PEC] está no artigo 7º da Constituição, que é uma cláusula pétrea”, disse Bolsonaro, referindo-se ao direito dos trabalhadores garantido pela Constituição e indicando que a proposta de mudança violaria esse princípio. Na visão dele, partidos como o PSOL buscam uma solução superficial e eleitoreira, em vez de enfrentar os problemas estruturais que afetam o Brasil.
Defesa da empregabilidade e da iniciativa privada
Bolsonaro também trouxe à tona uma proposta que discutiu com o então ministro da Economia, Paulo Guedes, durante seu governo: o projeto “Minha Primeira Empresa”, que visava criar condições para que cidadãos criassem suas próprias empresas, com o incentivo de pagar um valor fixo para o trabalhador e reduzir a carga de dias trabalhados para três. A ideia seria, segundo Bolsonaro, permitir que mais pessoas se tornassem empreendedoras, em vez de depender exclusivamente de um modelo tradicional de emprego com carteira assinada.
“Eu com o Paulo Guedes, por exemplo, começamos a ultimar um projeto, uma proposta, seria a criação ‘Minha Primeira Empresa’, para todo mundo que reclama do salário, por exemplo, da jornada de trabalho, vai poder criar a empresa dele”, explicou. A proposta seria um incentivo à formalização do trabalho e ao empreendedorismo, com o objetivo de reduzir a dependência das políticas públicas tradicionais e aumentar a geração de emprego por meio da iniciativa privada.
A visão de Bolsonaro sobre o “jogo político”
Bolsonaro concluiu sua fala criticando o que considera ser uma estratégia política do PT e de partidos aliados, dizendo que essas propostas de “facilidade” são na verdade jogadas para “dividir” a classe trabalhadora e criar um ambiente de “conflito” entre patrões e empregados. Para o ex-presidente, essa abordagem visa apenas gerar “simpatia” e “compaixão” do público, em uma tentativa de conquistar votos, sem resolver os problemas reais do país.
“Fazer o jogo do PT é muito fácil. Jogando um contra o outro, o patrão contra empregado, para buscar simpatia, compaixão, voto. Para poder voltar a fazer exatamente a mesma coisa que sempre fizeram: ou seja, nada, a não ser afundar o nosso Brasil”, disparou.
Crítica à ausência de soluções estruturais
No cerne de suas críticas, Bolsonaro reforçou que, ao invés de implementar propostas que, na sua visão, soam como medidas superficiais para ganhar votos, é necessário promover reformas estruturais que de fato ajudem o Brasil a superar seus principais desafios econômicos e sociais. Ele acredita que o verdadeiro caminho para o crescimento e a redução da desigualdade social passa pela criação de mais empregos e pela capacitação dos brasileiros para a iniciativa privada.
Essa manifestação de Bolsonaro sobre a PEC 4×3 faz parte de seu discurso político de oposição ao governo atual e à agenda de reformas de partidos de esquerda, na qual ele busca reforçar sua imagem como defensor da liberdade econômica e do empreendedorismo, enquanto critica as políticas que considera populistas ou simplistas.
Debate em torno da PEC 4×3
A proposta da deputada Erika Hilton (PSOL-SP) ainda gera amplo debate na sociedade brasileira. Enquanto alguns consideram que a redução da jornada de trabalho pode melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores e contribuir para um melhor equilíbrio entre vida profissional e pessoal, outros, como Bolsonaro, enxergam nela uma medida populista que pode desestabilizar o mercado de trabalho e não abordar os problemas reais da economia brasileira.