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Intervenções de Lula desencadeiam fuga massiva de investidores

Por Alexandre G.

As políticas intervencionistas implementadas pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), têm gerado preocupação entre os investidores estrangeiros em relação ao Brasil. De acordo com dados da Bolsa brasileira, B3, o mês de janeiro foi marcado por uma significativa saída de capital estrangeiro, totalizando cerca de R$ 7,9 bilhões, o que reverteu parcialmente o bom desempenho observado nos últimos meses do ano anterior no mercado de capitais.

Essa saída abrupta foi atribuída principalmente a fatores externos, como a perspectiva de manutenção de taxas de juros elevadas nos Estados Unidos. No entanto, os tumultos na política interna e os sinais de maior intervenção do Estado na economia também influenciaram a percepção de riscos e impactaram a atração de investimentos, conforme apontaram analistas de consultorias internacionais.

O principal motivo de desconfiança foi a insistência do presidente Lula em intervir na mineradora Vale, com o objetivo de promover a nomeação do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega para a presidência da empresa, o que gerou repercussão internacional.

Um artigo do jornal britânico “Financial Times” mencionou o receio dos investidores em relação a um ressurgimento do “capitalismo de Estado” no Brasil. O texto destacou os esforços do presidente Lula para fortalecer o papel do Estado na economia brasileira e ilustrou com uma imagem da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco. Conhecida por escândalos de superfaturamento e corrupção durante gestões anteriores do PT, que lhe renderam o apelido de “refinaria mais cara do mundo”, a unidade está passando por expansão, o que foi celebrado com um discurso de revanchismo por parte de Lula em um evento no mês passado.

Para Sílvio Campos Neto, consultor sênior e sócio da Tendências, as iniciativas intervencionistas têm sido um contraponto negativo em relação ao cenário internacional favorável, que torna o Brasil relativamente seguro em comparação com outros países emergentes.

“Os investidores têm uma percepção ambígua. Por um lado, o Brasil apresenta aspectos positivos, como uma balança de pagamentos sólida e uma política monetária sob controle, o que nos coloca em uma posição melhor do que países como Rússia, Turquia, Peru e Argentina”, explica Campos Neto. “No entanto, o cenário interno gera alarme quando observamos a dificuldade do governo em lidar com empresas privadas, que desejam conduzir seus negócios e determinar seus rumos. O caso da Vale exemplifica isso”, acrescenta.

Alexandre Reitz, chefe de renda variável da filial brasileira do banco suíço Julius Baer, também menciona a tentativa do governo de alterar a governança da Eletrobras, que foi privatizada em 2022.

“O Palácio do Planalto parece discordar do processo de privatização conduzido pelo governo anterior, embora tenha sido um procedimento legal amplamente discutido e construído com o Congresso Nacional. O mesmo padrão tem se repetido com a Vale. Esse tipo de intervenção, embora não seja decisivo para os investidores a longo prazo, não contribui no curto prazo e gera incertezas para os investidores”, afirma Reitz.

A consultoria internacional GlobalData TS Lombard, em um relatório divulgado em janeiro intitulado “A nova política industrial de Lula é um sinal de alerta”, avaliou que o presidente “contribui para a incerteza econômica ao interferir em empresas listadas na bolsa”.

Governo Lula no foco
Segundo os analistas, o comportamento do governo Lula sempre esteve sob escrutínio dos investidores estrangeiros. O início de sua gestão foi turbulento, especialmente devido aos comentários infelizes do presidente criticando a condução da política monetária pelo Banco Central e demonstrando pouca disciplina nos gastos públicos.

Embora o arcabouço fiscal tenha proporcionado alguma estabilidade ao mercado, ainda existem várias incertezas quanto ao cumprimento da meta deste ano, que pode ser revisada. Na quinta-feira (8), o presidente mais uma vez questionou a necessidade de ajustes. “Se conseguirmos alcançar um déficit zero, ótimo. Se não, tudo bem também”, afirmou Lula em uma entrevista à rádio Itatiaia.

O recente lançamento da nova política industrial protecionista e medidas adotadas anteriormente, como um pacote de investimentos de R$ 250 bilhões do BNDES para o setor, também aumentam as preocupações dos analistas.

“A utilização do BNDES para impulsionar o setor industrial no Brasil já foi tentada, e os resultados a longo prazo não foram positivos. Qualquer iniciativa nessa linha é mal vista pelo mercado. No final das contas, os custos dos subsídios sempre recaem sobre o Tesouro nacional. Além disso, o mercado é mais eficiente na alocação de capital do que alguns agentes estatais, escolhendo quais setores merecem mais recursos”, avalia Reitz.

Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, explica que o capital internacional é imediatista e não espera para ver sinais de problemas, sempre atento ao cenário macroeconômico estrutural. “Por enquanto, os investidores estão cautelosos. A percepção é de cautela. Ainda não é hora de mudar de posição. Mas a regressão do governo é preocupante”, diz.

Cenário externo favorece o Brasil
Os economistas lembram que o país está se beneficiando da desaceleração recente da economia chinesa. As previsões pouco otimistas para o gigante asiático têm afastado investidores, que se voltam para os mercados emergentes. Além disso, a expectativa de cortes nas taxas de juros americanas em algum momento, também deve contribuir para o fluxo de capital para o país. O Brasil só está sendo superado pelo México em investimentos externos na América Latina.

“Os investidores estrangeiros ainda estão mais otimistas do que os investidores locais”, observa Campos Neto. “Mas essa tendência pode mudar e se alinhar com as expectativas, se a situação macroeconômica piorar.”

A avaliação é que, em algum momento, a questão fiscal pode cobrar seu preço. Fatores como o impasse na reoneração da folha de pagamento, a alegação do Tribunal de Contas da União (TCU) de que as receitas do Orçamento de 2024 estão superestimadas e a divulgação de um déficit de R$ 230,5 bilhões em 2023 não foram bem recebidos pelo mercado.

“No âmbito doméstico, um ambiente político mais estável seria fundamental para atrair investimentos para o país. O governo deveria se concentrar no controle dos gastos em vez de priorizar exclusivamente o aumento da arrecadação para alcançar o equilíbrio fiscal”, acredita o analista da Julius Baer.

Para Alan Riddell, sócio de Deal Advisory & Strategy da KPMG Brasil, o desafio do país é criar um ambiente favorável para atrair investimentos financeiros e, especialmente, investimentos produtivos diretos. “Para isso, o governo precisa permitir que o setor privado assuma a liderança, sem a perspectiva de ser controlado”, afirma.

Devido aos problemas internos, Riddell acredita que o país está perdendo oportunidades de atrair grandes players para setores estratégicos, como tecnologia, energia e combustíveis.

“Não temos políticas públicas bem estruturadas e a relação risco-retorno é muito alta. Atrairíamos mais capital com um ambiente de estabilidade fiscal, simplificação tributária, boa regulação e segurança jurídica, respeitando as decisões judiciais. O mundo não carece de capital para investir em projetos rentáveis”, conclui.

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