O governo Lula começa a admitir, nos bastidores, que as tarifas de 50% sobre produtos brasileiros impostas por Donald Trump devem realmente entrar em vigor a partir de 1º de agosto. A análise no Planalto é de que dificilmente haverá um recuo por parte dos Estados Unidos, mesmo com tentativas de manter um canal diplomático aberto.
Enquanto Lula evita o confronto direto e aposta no discurso de “espaço para negociação”, a realidade é outra: interlocutores próximos ao presidente já reconhecem que o Brasil virou alvo preferencial de Donald Trump, tanto no plano econômico quanto no político.
A avaliação foi confirmada por reportagem da BBC News Brasil, segundo a qual sinais recentes vindos de Washington indicam que o endurecimento contra o Brasil é para valer. A revogação dos vistos diplomáticos de figuras do Judiciário brasileiro, como o ministro Alexandre de Moraes e o procurador-geral Paulo Gonet, seria apenas mais um sinal da deterioração das relações entre os dois países.
As postagens de Trump nas redes sociais têm sido cada vez mais críticas ao governo brasileiro, retratando Lula como um aliado da esquerda internacional e acusando o país de distorções comerciais e protecionismo. Para especialistas, a medida é também um gesto calculado de Trump ao empresariado norte-americano — especialmente aos setores industrial e agrícola — às vésperas da eleição presidencial.
E, no Brasil, a reação tem sido marcada por inércia e contradição.
Enquanto o Itamaraty ensaia discursos diplomáticos, o Planalto evita qualquer posicionamento firme, temendo uma escalada de tensões e sem apresentar até agora nenhum plano claro de retaliação comercial.
Governo paralisado diante da ameaça real
A postura hesitante do governo Lula reflete uma falta de estratégia diante de uma crise econômica iminente. Produtos-chave da balança comercial brasileira — como aço, alumínio, etanol e alimentos — podem ser fortemente impactados. A manutenção das tarifas pode significar bilhões em perdas anuais para o setor exportador.
Ainda assim, o governo evita falar em retaliações. A ordem no Planalto é agir “com cautela”, como se o silêncio fosse suficiente para frear um adversário que já deixou claro que pretende aumentar a pressão.
A fragilidade política e moral de Lula diante dos Estados Unidos é evidente, segundo críticos. O presidente tenta manter as aparências, mas o Brasil perdeu influência internacional e se tornou irrelevante nas mesas de negociação, reflexo de uma política externa ideológica, errática e personalista.
O histórico de Trump em disputas comerciais, como no caso da China, mostra que ele joga duro, mas negocia com quem se impõe. Com a China, as tarifas chegaram a 145%, mas após reação firme e contramedidas, os dois países chegaram a um acordo de redução parcial. Já com o Brasil de Lula, o recado é claro: não há resistência, apenas submissão e passividade.
A ausência de firmeza do governo pode enfraquecer ainda mais o Brasil no cenário global, afastar investidores e prejudicar duramente setores da economia nacional, justamente em um momento de estagnação e desconfiança sobre a gestão econômica lulista.
Com pouco mais de uma semana para o início da taxação, a dúvida não é mais se Trump vai manter as tarifas, mas quanto o Brasil perderá até o governo Lula finalmente reagir — se reagir.