O governo federal determinou sigilo por cinco anos em dois telegramas diplomáticos que tratam dos empresários Joesley e Wesley Batista e das operações da JBS nos Estados Unidos. A classificação como “reservada” ocorre em meio às negociações sobre as tarifas aplicadas por Washington a produtos brasileiros.
O jornal O Globo solicitou acesso aos documentos por meio da Lei de Acesso à Informação, mas recebeu apenas um dos três telegramas que mencionam a empresa. O único liberado, datado de 26 de agosto, traz uma análise da embaixadora Maria Luiza Ribeiro Viotti sobre os impactos das tarifas no preço da carne bovina no mercado norte-americano. Os outros dois, de 14 e 31 de julho, seguem confidenciais.
Segundo o Termo de Classificação da Informação, o Itamaraty fundamentou o sigilo no dispositivo legal que autoriza a proteção de dados quando sua divulgação pode prejudicar negociações diplomáticas ou relações internacionais do Brasil.
Relações com a Casa Branca
Reportagens anteriores já apontaram que a Pilgrim’s Pride, subsidiária da JBS com sede no Colorado, doou cerca de US$ 5 milhões ao comitê de posse de Donald Trump e do vice J.D. Vance — contribuição superiores à de gigantes como Boeing, Uber e McDonald’s.
No início de setembro, Joesley Batista esteve na Casa Branca para tratar diretamente com Trump da tarifa de 50% sobre exportações brasileiras de carne. A JBS é a maior produtora de proteína animal do mundo e possui nove unidades industriais nos EUA, país responsável por quase metade de sua receita mundial, que chegou a US$ 77 bilhões em 2024.
Essas tarifas foram anunciadas em 9 de julho em ofício enviado à Presidência da República. Na mesma mensagem, Trump classificou como “vergonha internacional” a condenação de Jair Bolsonaro pelo Supremo Tribunal Federal.
Sigilo recorrente
A decisão de ocultar detalhes dos telegramas foi assinada pelo ministro-conselheiro Kassius Diniz da Silva Pontes. O Itamaraty afirmou que aplica integralmente a Lei de Acesso à Informação e que a classificação segue critérios técnicos relacionados à proteção de interesses estratégicos.
Não é a primeira vez que comunicações envolvendo os negócios da JBS na região são mantidas sob sigilo. Outras tratativas diplomáticas que envolvem interesses da empresa na Venezuela também permaneceram protegidas, assim como 36 telegramas referentes ao tarifaço norte-americano.
Até o momento, a JBS não comentou o assunto.