A realidade bateu à porta do Palácio do Planalto, e o governo Lula precisou abandonar o tom de superioridade adotado nos primeiros meses do mandato. Pressionado por uma oposição cada vez mais determinada, especialmente após a prisão do ex-presidente Jair Bolsonaro, e frustrado com os resultados de uma pesquisa DataFolha que apontou estagnação em sua popularidade, o governo petista passou a operar com mais cautela e menos arrogância.
O chamado “tudo ou nada” da oposição no Congresso, liderada por parlamentares alinhados a Bolsonaro, tem travado a tramitação de projetos estratégicos para o Executivo. A aposta inicial do entorno de Lula era de uma relação “zerada” com o Legislativo, mas o plano não saiu como o esperado. O diálogo com líderes da Câmara e do Senado até evoluiu nos bastidores, mas o ambiente segue carregado de desconfiança e imprevisibilidade.
Derrota e desilusão com a popularidade
O segundo baque veio no campo da opinião pública. A pesquisa DataFolha divulgada no domingo (3) mostrou que a popularidade de Lula segue estagnada, contrariando a expectativa do Planalto de que o “tarifaço” do ex-presidente norte-americano Donald Trump contra a China pudesse render dividendos políticos ao governo brasileiro.
Aliados do presidente chegaram a alertar que o otimismo exagerado com a “onda anti-Bolsonaro” estava cegando o governo para os reais problemas do país, como inflação, desemprego e insegurança. A falta de entregas concretas para a população tem cobrado seu preço.
Bolsonaro cresce mesmo sob ataque
Mesmo após sua prisão, Jair Bolsonaro mantém forte influência no cenário político. O ex-presidente, hoje símbolo de resistência para milhões de brasileiros, continua sendo a principal referência da oposição e conta com uma base leal no Congresso e nas ruas.
Diferente de Lula, que tem recorrido a discursos ideológicos e polarização, Bolsonaro sempre soube dialogar com pautas populares e conservadoras. O ex-presidente também deixou um legado de mobilização que hoje se traduz em uma bancada fiel e em protestos expressivos por todo o Brasil — algo que Lula não consegue replicar.
‘Voo de galinha’ e medo do vexame em 2026
Na avaliação de líderes da centro-direita, o recente alívio de Lula nas pesquisas seria apenas um “voo de galinha”. A aposta desse campo político é desgastar o governo ao máximo no Congresso, esvaziando sua pauta e minando sua capacidade de entrega.
Mesmo projetos com apelo popular, como o aumento da faixa de isenção do Imposto de Renda, estão cercados por interesses divergentes e podem virar moeda de troca.
O cenário de incertezas fez Lula recuar e condicionar publicamente sua candidatura à reeleição em 2026 à sua saúde. A fala, feita durante evento do PT, foi interpretada como uma tentativa de manter uma “porta de saída” aberta, diante do risco real de uma derrota eleitoral humilhante.
Enquanto isso, a oposição cresce, se organiza e mostra que não pretende recuar — com Bolsonaro, mesmo perseguido, como símbolo central de uma resistência cada vez mais barulhenta e efetiva.