O governo, mais uma vez, mostra sua extrema dependência da distribuição de verbas do Orçamento para manter qualquer fio de articulação política com o Congresso. A liberação recorde de recursos não obrigatórios do Ministério da Saúde para atender a congressistas, é um sinal claro dessa escandalosa estratégia. Dos R$ 21 bilhões liberados este ano, impressionantes R$ 12,8 bilhões foram destinados a emendas individuais e de bancada. Isso revela não apenas uma prática questionável, mas também um ato moralmente duvidoso, especialmente em uma área tão carente de investimento público como a saúde.
O ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, orgulhosamente celebrou esse feito, destacando-o como um sinal de compromisso com o Congresso. No entanto, esse “recorde” não passa de um claro agrado aos parlamentares, especialmente sob a pressão liderada pelo presidente da Câmara, Arthur Lira. Esse episódio evidencia a crise de relacionamento entre o Congresso e o governo, com o Ministério da Saúde no epicentro da disputa.
Os ataques à ministra Nísia Trindade, embora mascarados como preocupação com a saúde pública, têm mais a ver com o represamento de verbas parlamentares ligadas à pasta. Revelações recentes apontam para graves irregularidades na gestão dos hospitais federais no Rio de Janeiro, no combate à dengue e na emergência sanitária dos povos yanomami. O problema se agrava quando se constata que parte dos recursos repassados em 2023, e agora em 2024, não atinge seu destino de forma eficiente e transparente, evidenciando um mau uso político desses recursos.
Esse cenário reflete não apenas a fragilidade da base parlamentar do governo, mas também a maneira como o manejo do Orçamento é conduzido de forma obscura e desorganizada. A negociação política não pode se sobrepor aos interesses da saúde pública. O toma lá dá cá, à custa da população, é uma prática indefensável que nenhum governo deveria se orgulhar de praticar.