A derrota avassaladora do governo Lula na votação que derrubou o aumento do IOF na Câmara dos Deputados, por 383 votos a 98, escancarou mais uma vez o fracasso da articulação política liderada por Gleisi Hoffmann. Desde que assumiu a Secretaria de Relações Institucionais em 28 de fevereiro, a presidente do PT não conseguiu reverter a tendência de isolamento do governo no Congresso, acumulando derrotas sucessivas em votações decisivas, segundo Cláudio Humberto, do Diário do Poder.
O placar, equivalente a um quórum de impeachment, não apenas representou um revés fiscal para o Palácio do Planalto, mas também demonstrou o desgaste da condução política da ex-senadora paranaense, que parece ter agravado — e não resolvido — a distância entre Executivo e Legislativo.
Desgaste político e fracassos
A escolha de Gleisi para comandar a articulação política foi vista por muitos parlamentares como um erro estratégico. Seu histórico de embates ideológicos, o tom agressivo e a falta de diálogo com líderes de centro e centro-direita aumentaram a tensão com o Congresso.
Desde que assumiu o posto, o governo vem sofrendo revezes consecutivos:
- Março a maio: Cresce o movimento pela criação da CPMI do INSS, mesmo com o esforço da base para barrá-la. O governo perde controle e a Comissão é aprovada com ampla maioria.
- Junho: A votação do Dia da Amizade Brasil-Israel é ignorada por Lula, que ultrapassa o prazo de sanção. O Senado acaba promulgando a lei à revelia do Planalto, gerando novo desgaste com a bancada evangélica e o setor diplomático.
- Junho: A oposição impõe a aprovação da urgência do projeto de anistia aos envolvidos no 8 de janeiro, mesmo após o Planalto tentar desmobilizar o tema. O governo apela ao STF, numa sinalização de impotência política.
- 17 de junho: Em sessão conjunta do Congresso, onze vetos presidenciais são derrubados, evidenciando o enfraquecimento do Planalto em todas as frentes legislativas.
- 26 de junho: O decreto do IOF é rejeitado por 383 votos, em um resultado humilhante para a equipe econômica e para a articulação política. A oposição celebrou a vitória como um símbolo do fim do “cheque em branco” dado ao governo.
Governo apanha de todos os lados
A gestão de Gleisi Hoffmann como articuladora política tem sido descrita por parlamentares como uma “malhação de Judas permanente”, com ausência de escuta, centralização de decisões no núcleo ideológico do PT e desprezo por partidos aliados que não seguem fielmente a cartilha lulista.
Deputados relatam que Gleisi ignora as demandas de bancada, foca na retórica combativa nas redes sociais e não constrói consensos. O resultado é um ambiente tóxico, onde até partidos formalmente da base se recusam a seguir orientações do Planalto, preferindo se alinhar à oposição em votações-chave.
Desconfiança interna e falta de comando
Nos bastidores, crescem as pressões dentro do próprio governo para que Lula repense o comando da articulação política. Aliados mais pragmáticos do presidente reconhecem que a manutenção de Gleisi no cargo compromete a governabilidade. Sua liderança não é respeitada no Congresso, e a base de apoio presidencial está fragmentada.
Muitos líderes partidários relatam que não atendem mais convites da presidente do PT e que “reuniões com Gleisi viraram perda de tempo”. Há quem diga que a relação de parlamentares com o Planalto é sustentada por ministros técnicos e interlocutores informais, enquanto a Secretaria de Relações Institucionais virou um vazio de poder.
Governo sem articulação, sem base e sem rumo
A sequência de derrotas no Congresso durante os quatro meses de Gleisi à frente da articulação já acendeu todos os alertas no Planalto. A impressão geral em Brasília é de que o governo Lula está sem base sólida, sem controle político e sem rumo.
A escolha de Gleisi — claramente pautada por critérios ideológicos e partidários — demonstra que o presidente Lula privilegiou a lealdade à eficácia, e agora paga o preço com uma base rebelde, oposição fortalecida e uma agenda emperrada.
Se o governo continuar acumulando derrotas como a do IOF, a governabilidade pode entrar em colapso ainda este ano.