Durante a cerimônia de reabertura dos trabalhos do Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira (1º), o ministro Gilmar Mendes protagonizou um discurso incisivo e cheio de recados. Sem citar nomes diretamente, mas com referências claras, o magistrado direcionou suas críticas ao deputado federal Eduardo Bolsonaro, a quem acusou de covardia por deixar o Brasil e passar a atacar as instituições democráticas em eventos internacionais. Segundo Mendes, esse tipo de comportamento revela não apenas uma postura evasiva, mas também um alinhamento com práticas que ele classificou como “entreguistas” e “lesivas à pátria”.
“O que estamos presenciando são ataques planejados à democracia, feitos por aqueles que, ao invés de permanecerem no país para enfrentar os fatos com responsabilidade, preferem se refugiar no exterior e propagar inverdades sobre nossas instituições. Isso é um comportamento covarde, indigno de um representante público”, afirmou o ministro durante a sessão.
Gilmar Mendes denunciou que há um movimento articulado por parte de setores radicais, que se recusam a aceitar os resultados das eleições e agora tentam enfraquecer a credibilidade do STF com narrativas distorcidas. Para ele, trata-se de um esforço deliberado de sabotar o funcionamento da Justiça e proteger investigados por envolvimento em atos antidemocráticos, especialmente aqueles ligados à tentativa de golpe ocorrida após o pleito de 2022.
“A tentativa de deslegitimar o Supremo Tribunal Federal é uma manobra que tem como pano de fundo a preservação de interesses pessoais e políticos. É um ataque à soberania nacional e à Constituição”, declarou. O ministro também reforçou que críticas são naturais em uma democracia, mas que o que se vê nesse caso extrapola os limites do debate legítimo. “Não estamos diante de críticas institucionais, mas de uma campanha orquestrada para enfraquecer as estruturas democráticas do país.”
Além disso, Mendes expressou solidariedade ao ministro Alexandre de Moraes, alvo de ataques constantes por parte de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro e de setores da extrema-direita. Segundo ele, os ataques contra Moraes e contra o próprio STF aumentam na mesma medida em que avançam as investigações, com provas contundentes e relatos de testemunhas que apontam planos de violência contra autoridades do Judiciário. “Esses que hoje gritam ‘liberdade’ e se dizem perseguidos são os mesmos que arquitetaram ações contra o Estado Democrático de Direito. Agora, diante das consequências, correm para o exterior para posar de vítimas”, disparou.
As declarações de Gilmar Mendes foram amplamente interpretadas como uma resposta direta a Eduardo Bolsonaro, que tem feito aparições em eventos nos Estados Unidos e em outros países criticando o STF, especialmente as ações conduzidas por Alexandre de Moraes. O deputado, que deixou o Brasil após o acirramento das investigações sobre os atos golpistas de 8 de janeiro, vem afirmando que há perseguição política contra conservadores no país — uma narrativa que, segundo Mendes, é mentirosa e perigosa.
Em sua fala, o ministro deixou claro que o STF seguirá firme no cumprimento de seu papel constitucional, mesmo diante de pressões políticas e tentativas de intimidação. “Não cederemos a ameaças ou chantagens. A democracia brasileira é maior do que esses ataques rasteiros. A Justiça seguirá sendo o pilar da legalidade e da defesa do Estado de Direito”, concluiu Gilmar Mendes.