Jornal cobra responsabilização por omissão diante de fraudes no INSS e cita ineficácia da gestão da Previdência
O jornal Folha de S.Paulo defendeu, em editorial publicado na noite desta terça-feira (29), a demissão do ministro da Previdência Social, Carlos Lupi (PDT), apontando omissão e negligência do gestor diante das fraudes bilionárias reveladas pela Polícia Federal no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Segundo o texto, Lupi “perdeu as condições de seguir no governo” por ter ignorado denúncias e recomendações de órgãos de controle desde o início do mandato.
“No cargo desde o início deste governo, em 2023, Lupi foi omisso quanto a denúncias e recomendações de órgãos de controle a respeito de inoperâncias e sinais de malfeitos justamente na administração do que é a essência do seu ministério, o instituto responsável pelo pagamento de aposentadorias, pensões e auxílios”, destaca a publicação.
Alerta ignorado por mais de um ano
De acordo com a Folha, os alertas sobre fraudes em descontos indevidos na folha de pagamento de aposentados foram levados ao Conselho Nacional da Previdência Social, presidido por Lupi, ainda em 2023. Documentos da Controladoria-Geral da União (CGU), do Tribunal de Contas da União (TCU) e do Ministério Público Federal (MPF) apontaram falhas na fiscalização e indícios de irregularidades, mas nenhuma medida concreta foi tomada à época.
O jornal lembra que o crescimento dos descontos foi alarmante: um salto de 84% em 2023 em relação ao ano anterior, e uma alta de 273% em 2024, comparado a 2022 — último ano do governo Jair Bolsonaro. Embora o esquema tenha se iniciado no governo de Michel Temer, segundo o jornal, foi durante a gestão Lula que ele atingiu maior proporção.
Resposta lenta e ineficaz
Em sua defesa, Lupi alegou que a administração pública é “demorada” e que demitiu um diretor envolvido na auditoria somente em julho de 2024 — meses após os primeiros relatórios. Já o então presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, só deixou o cargo após ser afastado judicialmente.
A mudança nas regras para autorizar descontos — com exigência de documentação e biometria — só entrou em vigor em 2025. A Folha destaca que o ministério não implementou nenhuma medida eficaz para reverter os prejuízos nem para indenizar os beneficiários lesados. Para o jornal, a justificativa de que o processo administrativo é moroso não se sustenta diante da gravidade dos fatos e da estrutura que o ministério dispõe.
Desgaste político e cobrança por providências
O editorial amplia a pressão sobre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que até agora tem resistido a demitir Lupi, temendo perder o apoio dos 17 deputados e 3 senadores do PDT no Congresso. No entanto, a posição da Folha, tradicionalmente alinhada ao debate institucional e à responsabilização republicana, aumenta o desgaste do ministro e fragiliza sua permanência no cargo.
“O responsável administrativo e político pelo descalabro não pode continuar à frente da pasta. Sua permanência compromete a credibilidade do governo em relação à proteção dos mais vulneráveis”, conclui o editorial.