Um em cada três procedimentos cirúrgicos no Brasil tem sido cancelado por problemas estruturais ou ausência de profissionais essenciais. A conclusão é da pesquisa Demografia Médica no Brasil 2025, realizada pela Faculdade de Medicina da USP em parceria com o Ministério da Saúde e a Associação Médica Brasileira (AMB).
Segundo o levantamento, 29% das cirurgias foram canceladas nos últimos seis meses. Desses cancelamentos, 21% foram motivados pela precariedade da infraestrutura hospitalar — com destaque para salas cirúrgicas inadequadas, UTIs sem suporte e equipamentos danificados. Já 8% ocorreram por ausência de profissionais, principalmente anestesiologistas.
A pesquisa ouviu 1.500 médicos atuantes em diferentes regiões do país e revelou um colapso silencioso no sistema cirúrgico brasileiro, que atinge tanto hospitais públicos quanto privados. A fila de espera no Sistema Único de Saúde (SUS) já ultrapassa 1,3 milhão de pessoas, e a tendência é de agravamento diante da escalada nos cancelamentos.
Para o professor Mario Scheffer, coordenador do estudo, o problema não é apenas de quantidade de médicos, mas de distribuição desigual e de uma estrutura que não consegue sustentar o volume crescente de cirurgias. Ele destaca a necessidade urgente de ampliar residências médicas para cirurgiões e anestesistas, além de promover parcerias com a rede privada.
“Será preciso formar mais cirurgiões e anestesiologistas por meio de residência médica, distribuir melhor esses profissionais, evitar cancelamentos de cirurgias”, afirmou Scheffer. “Mas, em curto prazo, para diminuir as filas de cirurgia no SUS será necessário deslocar para a rede pública parte da capacidade cirúrgica hoje concentrada em hospitais privados.”
A pesquisa reforça o alerta sobre o impacto do déficit de profissionais e da estrutura hospitalar precária na saúde pública e aponta para a urgência de políticas integradas que permitam garantir o acesso efetivo a cirurgias e tratamentos no Brasil.