Hugo Carvajal, ex-diretor de inteligência militar da Venezuela, possui novos documentos que, segundo ele, revelam ligações entre o narcotráfico, a petroleira estatal PDVSA e o financiamento de campanhas políticas internacionais — inclusive no Brasil. A informação foi divulgada pela jornalista Elisa Robson, em entrevista ao programa Oeste com Elas, nesta terça-feira (21).
Conhecido como “El Pollo”, Carvajal aceitou colaborar com a Justiça dos Estados Unidos na última sexta-feira (17). Segundo Elisa, ele está disposto a revelar dados detalhados sobre operações que envolvem tráfico de drogas, desvio de recursos estatais e apoio político a partidos de esquerda alinhados ao Foro de São Paulo.
Autora do livro Carvajal, Lula e o Sequestro da América Latina, Elisa Robson vive atualmente nos EUA sob asilo político. Ela afirma ter sido alvo de censura nas redes sociais e pressões judiciais no Brasil — incluindo interrogatórios de pessoas próximas — por conta de suas investigações. As ações teriam sido determinadas pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, no contexto de inquéritos ligados ao ex-general venezuelano.
Conexão entre PDVSA, narcotráfico e política
Durante a entrevista, a jornalista relatou que Carvajal voltou a afirmar a existência de um esquema estruturado em que o narcotráfico alimenta financeiramente a PDVSA, e esta, por sua vez, repassa recursos a campanhas políticas internacionais. Segundo ele, esse fluxo de dinheiro ilegal beneficiaria especialmente partidos ligados à esquerda latino-americana, com repasses inclusive para campanhas no Brasil, Argentina e Colômbia.
“Carvajal sempre repete que o narcotráfico está profundamente conectado ao funcionamento da PDVSA”, disse Elisa. “Essas ligações, segundo ele, são o foco da operação dos EUA contra o regime venezuelano.”
Além disso, o ex-militar é acusado de integrar — e até liderar — o Cartel de Los Soles, organização criminosa envolvida com tráfico de drogas, o que aumenta o peso de suas declarações diante das autoridades americanas.
EUA adiam julgamento e consideram provas relevantes
A jornalista destacou que as novas provas entregues por Carvajal foram consideradas substanciais pela Justiça dos EUA, o que levou ao adiamento de seu julgamento, anteriormente marcado para 29 de outubro, agora remarcado para 19 de novembro.
“Se fossem provas irrelevantes, o julgamento continuaria como estava. Isso mostra que há informações de grande peso sobre o que ocorreu no Brasil e em outros países da região”, avaliou.
Possíveis conexões com a Lava Jato e o STF
Elisa também aponta possíveis vínculos entre os casos revelados por Carvajal e a Operação Lava Jato. Segundo ela, há indícios de que recursos desviados por meio da parceria entre a PDVSA e a Petrobras podem estar ligados às investigações sobre corrupção no Brasil.
“Perguntei diretamente a ele sobre o paradeiro do dinheiro desviado que a Lava Jato não conseguiu recuperar. A resposta foi no sentido de que essas conexões existem e podem ser exploradas na delação”, afirmou.
Ainda segundo Elisa, Carvajal sinalizou que pretende revelar possíveis relações entre o regime de Nicolás Maduro e autoridades brasileiras, inclusive do Supremo Tribunal Federal. Embora não tenha entrado em detalhes durante a entrevista, o ex-general teria indicado que esse é um dos temas que serão abordados em sua colaboração judicial.
“Perguntei especificamente sobre ministros do STF e eventuais conexões com o regime venezuelano. Ele preferiu se resguardar nesse momento, mas deixou claro que isso pode ser parte de sua delação”, concluiu a jornalista.