Assessor de Bolsonaro nunca deixou o Brasil, mas entrada e saída foram registradas no sistema de imigração dos EUA
O governo dos Estados Unidos reconheceu, durante audiência realizada na última quarta-feira (9), que houve fraude no registro de entrada do ex-assessor especial da Presidência da República, Filipe Martins, em solo norte-americano. A informação foi divulgada por sua defesa ao site Poder360.
Segundo o advogado Ricardo Fernandes, que representa Martins, trata-se de um reconhecimento importante para a elucidação do caso, uma vez que o ex-assessor do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nunca deixou o Brasil. Mesmo assim, sua entrada e posterior saída dos EUA foram indevidamente registradas no sistema oficial, fato que sustentou a narrativa inicial de que ele teria tentado fugir do país.
Martins foi preso em fevereiro de 2024, sob a acusação de estar foragido. No entanto, sua defesa apresentou provas de que ele permaneceu no Brasil o tempo todo, inclusive com registros de localização via celular, histórico de voos da companhia Latam e ausência de qualquer carimbo ou registro oficial de imigração norte-americana até 12 de abril de 2024.
De acordo com a defesa, a única evidência da suposta viagem era um documento não oficial encontrado no computador de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, que listava Martins como passageiro em um voo presidencial com destino a Orlando (EUA), no final de 2022. A autenticidade e a veracidade desse arquivo, no entanto, são questionadas.
Além disso, uma série de erros grosseiros nos registros reforça a tese de fraude. O nome de Filipe Martins foi escrito com grafia incorreta (“Felipe”), o visto registrado não corresponde ao seu visto válido e o passaporte diplomático mencionado na entrada é um documento perdido em 2021. Esses elementos, segundo a defesa, demonstram falhas graves ou manipulação intencional nos registros de imigração.
O advogado afirmou ainda que um agente da Alfândega e Proteção de Fronteiras dos EUA (CBP) teria atuado diretamente na inserção irregular das informações no sistema. O nome do funcionário já foi identificado, e há, segundo Fernandes, provas materiais contra ele. A partir de agora, a estratégia da defesa se concentra em responsabilizar os envolvidos e obter, na Justiça americana, a identificação de quem inseriu os dados falsos.
Martins ficou preso por seis meses, até que a Procuradoria-Geral da República (PGR) admitisse não haver provas robustas para mantê-lo detido. O caso levanta dúvidas sérias sobre a conduta de autoridades envolvidas na investigação e, segundo a defesa, pode ter repercussões internacionais, caso não se apurem os responsáveis pela fraude.
“Se for comprovado que houve inserção indevida de dados em sistemas de imigração, o Brasil pode ser alvo de sanções internacionais, caso não responsabilize adequadamente os envolvidos”, alerta Ricardo Fernandes.
O episódio soma-se a outras denúncias de ilegalidades ocorridas no contexto de investigações contra aliados do ex-presidente Bolsonaro, reforçando questionamentos sobre o uso político de estruturas institucionais e sobre a legalidade de decisões tomadas à revelia de provas concretas.