O estudo realizado pela Genial Investimentos, indica que a valorização do real em relação ao dólar poderia ter sido mais significativa em 2023, não fossem as incertezas políticas no país. A desconfiança resultou na retenção de parte dos dólares provenientes da venda de commodities agrícolas e minerais pelos exportadores, impactando o câmbio.
O encerramento do ano passado viu o dólar cotado a R$ 4,841, marcando uma queda de 7,2% em relação ao ano anterior, impulsionada em parte pelo robusto saldo na balança comercial, que alcançou US$ 98,9 bilhões, conforme a Secex.
A Genial Investimentos destaca que o recorde histórico no saldo da balança comercial poderia ter levado a uma cotação do dólar em torno de R$ 4,60, 24 centavos abaixo do valor real. No entanto, a retenção de parte dos recursos no exterior impediu esse cenário.
Desde então, as condições se deterioraram, com a atividade econômica e a inflação nos EUA superando as expectativas, o que adiará a queda dos juros norte-americanos. Isso estimula investidores a retirarem recursos de países como o Brasil, intensificando-se nos últimos dias devido às tensões no Oriente Médio e às mudanças na meta fiscal do governo.
Os economistas da Genial observaram um descolamento entre os valores exportados e os recursos efetivamente internalizados a partir de 2022. Se os exportadores tivessem trazido os recursos para o Brasil como faziam antes da pandemia, o real teria se valorizado ainda mais, já que anteriormente quase todos os recursos eram internalizados.
A entrada de mais dólares teria impactos positivos na inflação, juros e PIB. A redução da inflação poderia levar a uma queda mais rápida dos juros, estimulando um crescimento mais robusto do PIB, que teve um desempenho modesto no ano anterior. No entanto, a manutenção de parte dos recursos no exterior reflete as incertezas sobre a economia brasileira, incluindo tentativas governamentais de interferência no setor privado.
Além das incertezas políticas, a reforma tributária e o contencioso tributário também preocupam os exportadores. A falta de clareza sobre a nova alíquota do IVA e o que será incluído no Imposto Seletivo gera incertezas. O contencioso tributário também afeta a confiança dos investidores, já que as decisões judiciais podem ser imprevisíveis.
Para o final de 2024, a Genial projeta uma cotação do dólar acima de R$ 5, devido à expectativa de uma safra menor e a permanência dos juros em patamares elevados, reduzindo os incentivos para a repatriação de recursos. As metas e resultados das contas públicas também influenciarão a trajetória do câmbio, com a pressão sobre o dólar prevista para continuar.