O governo de Luiz Inácio Lula da Silva está longe de ser o espetáculo que o PT tanto prometeu, diz o editorial do Estadão. Na prática, a gestão atual tem sido mais que uma decepção para muitos, e o Partido dos Trabalhadores, longe de ser um apoio coeso e confiável, parece ser um peso que afunda ainda mais o governo. A relação tumultuada entre Lula e seu próprio partido levanta a pergunta: o PT atrapalha o governo ou o governo atrapalha o PT? Ou, quem sabe, ambos caminham de mãos dadas rumo ao desastre?
Não foi coincidência que Lula tenha decidido antecipar a troca de comando do PT. Está claro que o partido, ao invés de se alinhar com as diretrizes do governo, frequentemente age como seu maior opositor interno. A ala mais radical do PT não só mina a política econômica liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, uma das poucas áreas que realmente tem surpreendido positivamente, como também toma posições que causam constrangimento e afastam aliados potenciais, tanto no Brasil quanto no exterior.
A postura do PT em relação a regimes autoritários é um exemplo claro do desserviço que o partido faz ao governo. A recente defesa da reeleição de Vladimir Putin, mesmo após a invasão da Ucrânia, envia uma mensagem perigosa e antiquada, alienando o Brasil da comunidade internacional. Além disso, a exaltação ao regime chinês e a contínua validação da ditadura venezuelana de Nicolás Maduro apenas pioram a imagem de Lula e do PT. O partido celebra líderes que o mundo democrático condena, enquanto ignora questões críticas dentro de suas próprias fronteiras.
O fracasso nas eleições municipais e a crise interna no PT
Se o governo Lula estivesse indo bem, com grandes realizações e popularidade em alta, talvez os erros do PT passassem despercebidos. Mas a realidade é outra. A gestão federal enfrenta dificuldades, e as derrotas do PT nas eleições municipais agravam ainda mais a percepção de fracasso. Em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e outras capitais importantes, o partido simplesmente não tem força. O PT ficou em nono lugar no número de prefeituras no primeiro turno, atrás até mesmo do PSB e do PSDB, que já foi dado como moribundo.
O desempenho pífio nas eleições municipais revela a fragilidade da estrutura petista, que parece estar desmoronando. No Rio de Janeiro, o partido está nas mãos de figuras como André Ceciliano e Quaquá, conhecidos mais pelos escândalos do que por suas realizações. Em São Paulo, a desorganização do PT sob o comando dos irmãos Tatto afastou o apoio de Guilherme Boulos, o candidato preferido de Lula. Em Belo Horizonte, o PT sofre de inanição política, incapaz de competir em um cenário que já dominou no passado.
Divisões internas e falta de liderança clara
A incapacidade do PT de se reinventar e de construir alianças eficazes dentro e fora do partido é um reflexo da falta de liderança clara. Lula, por ser maior que o PT, toma as rédeas e dá todas as ordens, mas o resultado é um partido que parece à deriva, sem identidade e sem rumo. Lula precisa de um PT forte e alinhado, mas o que ele tem é uma organização dividida e cheia de conflitos internos, onde a velha guarda resiste à renovação, e as novas lideranças simplesmente não têm força para mudar o jogo.
A troca de comando no PT, com Lula tentando emplacar Edinho Silva na presidência do partido, é um sintoma dessa crise. Edinho não conseguiu sequer eleger sua candidata em Araraquara, mas ainda assim, é visto como uma opção mais viável do que a atual presidente, Gleisi Hoffmann. No entanto, não há líder que consiga fazer milagres quando tanto o governo quanto o partido estão fora de prumo.
Um governo sem norte
Enquanto o PT tropeça nas eleições e se embaraça com seus posicionamentos questionáveis, o governo Lula segue sem direção em áreas cruciais como política externa, meio ambiente, educação e cultura. O cenário é de desgoverno, onde falta coordenação e sobra arrogância. Lula, que já foi visto como um líder hábil e carismático, agora parece perdido, incapaz de conter as divisões internas e de oferecer um projeto claro para o país.
O resultado é um governo que está cada vez mais distante das necessidades da população, e um partido que não consegue se posicionar de forma relevante no cenário político. A pergunta que fica é: quanto tempo mais o Brasil vai suportar esse ciclo de autossabotagem entre governo e partido?