Presidente ignora ato de 1º de Maio e opta por demagogia em pronunciamento oficial, diz jornal; editorial aponta perda de conexão entre PT e realidade do trabalho no Brasil
Em duro editorial publicado nesta sexta-feira (2), o jornal O Estado de S. Paulo acusou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de ter se distanciado da realidade dos trabalhadores brasileiros.
A crítica centra-se na ausência do chefe do Executivo nas celebrações do Dia do Trabalho e no que o jornal classificou como um “pronunciamento demagógico”, veiculado em rede nacional de rádio e TV na véspera da data.
Segundo o texto, Lula, ao invés de marcar presença em um ato público com trabalhadores, preferiu o conforto do Palácio do Planalto para repetir velhos chavões do sindicalismo petista.
“Recorreu ao clássico lulopetista: a demagogia”, afirma o jornal, ao comentar as promessas de redução de jornada sem redução de salário e a isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil.
Medo de constrangimento e plateias vazias
Para o Estadão, a ausência de Lula nos atos de rua é explicada por um temor político: o de repetir o constrangimento do ano passado, quando discursou diante de um público esvaziado. O episódio, afirma o jornal, simboliza o colapso da narrativa da esquerda tradicional sobre o trabalho e sua desconexão com os brasileiros.
“A agenda política da esquerda e do PT, em particular, é tão vazia quanto a minguada plateia reunida naquele constrangedor evento”, cravou o editorial.
Classe trabalhadora mudou e Lula não percebeu
Um dos pontos centrais da crítica do Estadão é o anacronismo do discurso de Lula, que ainda se apresenta como o líder sindical da década de 1980, mesmo em um país profundamente transformado.
“A tal ‘classe trabalhadora’ a que Lula e os sindicalistas se referem, como se ainda estivéssemos nos anos 1970, não existe mais”, afirma o texto, que aponta que as novas dinâmicas de trabalho — como o empreendedorismo individual, a tecnologia e o trabalho remoto — são ignoradas pelo petismo, que insiste em falar para um Brasil que não existe mais.
Abismo entre o Planalto e a realidade do trabalho
O editorial termina com uma crítica contundente ao isolamento ideológico do governo: “Nenhum deles ali, a começar por Lula, conhece o idioma do trabalho no século 21.”
A crítica escancara uma fragilidade crescente no discurso do presidente: a dificuldade de dialogar com uma classe média empobrecida, jovens precarizados e trabalhadores fora da lógica sindical tradicional.
Para o jornal, a tentativa de manter viva a retórica da luta de classes se tornou uma peça de museu — e não mais uma ferramenta de mobilização social.