O governo brasileiro, liderado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), decidiu enviar a embaixadora do Brasil na Venezuela, Glivânia Maria de Oliveira, para representar o país na posse de Nicolás Maduro, marcada para 10 de janeiro. A escolha foi feita em meio a críticas sobre o reconhecimento do governo de Maduro, cuja eleição foi amplamente denunciada como fraudulenta.
O editorial do jornal O Estado de S. Paulo, publicado nesta terça-feira (7), aponta que, embora o Palácio do Planalto tenha declarado que o presidente Lula e nenhum ministro irão a Caracas, a presença da embaixadora configura, de fato, um apoio implícito ao regime chavista.
Para o Estadão, a decisão do governo de enviar uma representante, mesmo de escalão inferior, equivale a um reconhecimento da legitimidade da posse e do resultado eleitoral, apesar das inúmeras evidências de irregularidades no processo. Segundo o jornal, essa postura reflete a dificuldade do governo brasileiro em equilibrar compromissos democráticos com sua afinidade ideológica com o chavismo.
Eleição Fraudulenta e Perseguição Oposicionista
A publicação relembra que o processo eleitoral venezuelano foi marcado por perseguição à oposição, cassação de candidaturas com potencial de vitória, prisões políticas, intimidações e violência estatal contra manifestantes.
Maduro chegou a ameaçar com uma “guerra civil” caso não fosse eleito e, após proclamar sua vitória, continuou a reprimir opositores. Dezenas de manifestantes foram mortos e cerca de 2 mil pessoas foram detidas nos meses seguintes, enquanto milícias paramilitares, conhecidas como “Coletivos”, espalhavam o medo.
Entre as vítimas do regime está Edmundo González Urrutia, opositor que reivindica a vitória eleitoral. Ele é perseguido pelas autoridades venezuelanas, que oferecem uma recompensa de US$ 100 mil por informações que levem à sua captura.
Postura Brasileira
O Estadão critica o silêncio do governo brasileiro diante das arbitrariedades de Maduro e destaca declarações de Lula que minimizaram a gravidade da situação, como a afirmação de que a Venezuela realiza mais eleições do que o Brasil e, por isso, seria um país democrático.
O chanceler Celso Amorim também foi alvo de críticas por sua postura branda em relação ao regime chavista, contrastando com as notas de repúdio emitidas por outros países latino-americanos.
O jornal conclui que a relação entre o governo Lula e o regime chavista reflete o alinhamento ideológico do lulopetismo, que permanece próximo de regimes autoritários mesmo diante de evidências de violações de direitos e ataques à democracia.