Em reunião com o vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, nesta terça-feira (15), representantes do setor produtivo brasileiro pediram ao governo que evite retaliar os Estados Unidos após o anúncio de uma tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, feita pelo presidente norte-americano Donald Trump. A medida entra em vigor no próximo dia 1º de agosto.
Além de Alckmin, participaram do encontro os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e Rui Costa (Casa Civil), além de representantes da CNI (Confederação Nacional da Indústria) e executivos de 18 associações e empresas de grande porte.
Setor produtivo defende diálogo e alerta para riscos econômicos
O setor produtivo pediu mais tempo para negociar com os EUA e sugeriu um adiamento de 90 dias na implementação da tarifa, alegando que os 15 dias restantes são insuficientes para formular uma proposta técnica viável.
O presidente da CNI, Ricardo Alban, pediu pragmatismo:
“Não é prudente retaliar em uma relação comercial que sempre foi complementar. Precisamos evitar a contaminação política do debate.”
Segundo projeções da entidade, a tarifa pode eliminar 110 mil empregos e afetar diretamente o PIB nacional, além de comprometer setores como o agronegócio e a indústria de transformação, que têm forte dependência do mercado norte-americano. Empresários também destacaram que não há mercado alternativo de curto prazo que substitua os EUA nas exportações brasileiras.
Governo resiste a estender prazo
Apesar dos apelos, Alckmin descartou, por ora, um pedido formal de prorrogação:
“A ideia do governo não é pedir que o prazo seja estendido, mas sim resolver a situação até o dia 31.”
Ele também enfatizou que há canal de diálogo aberto com os norte-americanos, citando conversas com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutenich, e com representantes do USTR (Escritório do Representante Comercial dos EUA).
Agronegócio já sofre impactos
À tarde, Alckmin se reuniu com lideranças do agronegócio, setor mais afetado pela medida. O presidente da Abiec, Roberto Perosa, afirmou que frigoríficos já estão interrompendo a produção para os EUA, e alertou que 30 mil toneladas de carne bovina estão nos portos ou a caminho do país.
Alckmin reconheceu a urgência:
“Estamos falando de produtos perecíveis e embarques já em andamento. É uma questão urgente.”
Nesta quarta-feira (16), o governo se reunirá com representantes das câmaras de comércio Brasil-EUA, da indústria química, de cooperativas agrícolas, empresas de software, centrais sindicais e confederações patronais para buscar uma resposta estratégica.
A expectativa do setor produtivo é que o governo adote uma postura diplomática e técnica, para preservar empregos e evitar prejuízos bilionários no comércio exterior brasileiro.