Rubens Ometto, CEO da Cosan e um dos maiores empresários do Brasil, fez críticas contundentes à gestão econômica do governo Lula durante um evento do Grupo Esfera Brasil. Apesar de ter doado R$ 1 milhão para a campanha do PT nas eleições de 2022, Ometto manifestou insatisfação com o rumo fiscal e monetário do país, descrevendo a situação como “muito difícil”.
Críticas à política fiscal
Ometto apontou o déficit fiscal como o principal entrave para o desenvolvimento econômico do Brasil e afirmou que a falta de disposição do governo para enfrentar o problema está prejudicando o ambiente de negócios.
— É muito fácil resolver. É só resolver o problema do déficit fiscal que tudo se assenta, mas eles não querem fazer. […] Estamos ferrados porque a alta administração do nosso país acha que está certo e não quer fazer nada — declarou o empresário.
Ele também previu que os juros em alta continuarão inviabilizando parcerias público-privadas e investimentos em infraestrutura, afetando diretamente a recuperação econômica.
Autonomia do Banco Central em xeque
Durante o evento, Ometto questionou Gabriel Galípolo, futuro presidente do Banco Central (BC), sobre a independência da instituição para conduzir a política monetária. Em resposta, Galípolo garantiu que o BC manterá autonomia em sua gestão, mas a fala não pareceu acalmar o empresário.
A autonomia do BC tem sido alvo de especulações desde que Lula voltou a criticar a independência do órgão, levantando preocupações no mercado financeiro sobre possíveis interferências políticas.
“Governo quer morder tudo”
Não é a primeira vez que Rubens Ometto faz críticas públicas à administração petista. Em junho, ele acusou o governo de desrespeitar leis e aumentar impostos de forma agressiva, referindo-se a medidas como a restrição ao uso de créditos de PIS/Cofins e mudanças nas regras do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf).
— Do jeito que está, com o governo querendo meter a mão, querendo taxar tudo, não dá. […] Eles estão preocupados em morder, morder e estão fazendo isso — afirmou Ometto à época.
A postura do empresário levanta questões sobre a decisão de financiar a campanha do PT. Apesar de ser um crítico recorrente da gestão econômica e fiscal do partido, Ometto contribuiu significativamente para a reeleição de Lula.
O episódio reflete o dilema de empresários que, por um lado, tentam manter diálogo com o governo por meio de apoio político, mas, por outro, se frustram com políticas que consideram prejudiciais ao setor privado e à economia nacional.
As declarações de Ometto ocorrem em um momento de crescente preocupação do mercado. Após a apresentação do pacote fiscal de Haddad, as previsões para inflação, juros e dólar pioraram, enquanto a confiança do empresariado segue abalada.
Se o governo não abordar os desequilíbrios fiscais e retomar a credibilidade, as críticas de empresários como Ometto podem se tornar o prenúncio de um distanciamento mais amplo entre o setor privado e a atual administração.