Enquanto o Brasil enfrenta uma das mais sérias crises diplomáticas com os Estados Unidos nas últimas décadas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu deixar o país rumo ao Chile. O objetivo? Participar de uma reunião entre líderes de esquerda da Ibero-América para, segundo o Planalto, combater o “extremismo digital” e debater a regulação de plataformas e big techs.
A viagem acontece no pior momento possível, com tarifas de 50% sobre produtos brasileiros prestes a entrar em vigor por ordem de Donald Trump, que voltou à Casa Branca com uma postura abertamente crítica ao governo Lula e ao Supremo Tribunal Federal. A retaliação tarifária pode afetar gravemente setores estratégicos da economia nacional, mas mesmo diante da escalada, o presidente optou por priorizar encontros ideológicos com aliados regionais.
Agenda ideológica acima dos interesses comerciais
No encontro batizado de “Democracia Sempre”, Lula pretende denunciar o que chama de “interferência externa dos EUA na soberania brasileira” e alertar outros países da América Latina sobre os impactos de pressões internacionais e “ataques virtuais”.
Apesar da pauta conter temas como regulação da inteligência artificial e taxação das big techs, a viagem soa como uma tentativa de desviar o foco da crise econômica iminente. Nos bastidores, integrantes do próprio governo reconhecem que o Brasil não tem respostas efetivas para o tarifaço imposto por Trump, e o Planalto já trabalha com a possibilidade de que as medidas entrem em vigor no dia 1º de agosto — sem qualquer sinal de recuo por parte de Washington.
Reunião com velhos aliados da esquerda latino-americana
Lula será recebido por Gabriel Boric, presidente do Chile, e dividirá mesa com nomes como Gustavo Petro (Colômbia), Pedro Sánchez (Espanha) e Yamandú Orsi (Uruguai). Todos são líderes alinhados à esquerda e defensores de políticas regulatórias mais rígidas contra redes sociais e empresas de tecnologia.
A presença da nova presidente do México, Claudia Scheinbaum, ainda é incerta. A reunião ocorre no Palácio La Moneda, e havia sido originalmente marcada para o início do ano, mas enfrentou adiamentos diante das turbulências políticas na região.
O evento foi impulsionado após a volta de Trump à presidência dos EUA, que já determinou deportações em massa, políticas protecionistas e interferência tarifária contra países da América do Sul — incluindo o Brasil.
Críticas à inércia diplomática brasileira
A viagem de Lula tem sido criticada por fugir do enfrentamento direto com os EUA, em vez de buscar alternativas práticas para neutralizar o impacto econômico das tarifas. Enquanto países como Canadá, Japão e Coreia do Sul intensificam suas articulações diplomáticas com Washington, o Brasil segue um caminho isolado, priorizando pautas ideológicas e discursos genéricos sobre democracia.
Especialistas alertam que, ao transformar uma grave disputa comercial em um debate político sobre redes sociais e regulação digital, o governo brasileiro perde tempo e credibilidade no cenário internacional. A agenda da reunião no Chile pode até fortalecer alianças à esquerda, mas dificilmente trará soluções concretas para a crise tarifária em curso.
Enquanto setores produtivos no Brasil aguardam medidas concretas para conter o impacto das tarifas de Trump, Lula se ausenta em meio à tempestade para liderar um encontro que pouco dialoga com a realidade urgente do país. A retórica sobre “extremismo digital” e “soberania democrática” pode render aplausos entre aliados ideológicos, mas não reduz impostos, não gera empregos, nem evita perdas bilionárias nas exportações.
A postura do governo brasileiro mostra, mais uma vez, que o Planalto prefere o conforto das narrativas à dureza da diplomacia real. E, infelizmente, quem paga essa conta é o povo brasileiro.