Após séculos de preconceitos e impunidade, é imperativo dar extrema seriedade a qualquer acusação de maus-tratos feita por uma mulher. A necessidade de investigações minuciosas e punições severas para os infratores, muitas vezes parceiros, chefes ou até mesmo agressores desconhecidos nas ruas, é resultado de um longo processo civilizatório. Este processo procurou restringir atos hostis, historicamente tolerados, perpetrados principalmente por homens. Mesmo durante a Segunda Guerra Mundial, um evento histórico há relativamente pouco tempo, o estupro foi utilizado como um instrumento de guerra, particularmente pelos exércitos alemães e soviéticos.
Os tempos atuais exigem que ninguém mais se cale diante das denúncias. As mulheres que se manifestam, cada vez mais sem retorno, recebem apoio da família, amigos e atenção das autoridades. No caso de figuras públicas, artistas e celebridades costumam se posicionar ao lado da vítima, que frequentemente está correta, e contra os agressores.
No Brasil, há uma peculiaridade. Em muitos episódios, certos grupos tentaram associar atos de violência apenas a membros de uma ideologia específica. Por exemplo, tentou-se ligar a ideia de ser “de direita” com desvios de caráter que levariam a atos condenáveis, como humilhar os menos privilegiados ou propagar ódio contra quem é diferente. Entretanto, é comum ver memes produzidos pela esquerda que ironizam essa questão, como “esse aí votou em quem?”, referindo-se a Bolsonaro, em notícias sobre acusações de comportamento socialmente reprovável. Porém o mais comum o é ver os apoiadores da ala do “amor”, cometendo crimes, inclusive o que se refere a violência doméstica.
Além disso, também há generalizações contra aqueles considerados “de esquerda”. Ativistas de direita, por exemplo, muitas vezes retratam que muitos esquerdistas são drogados ou pervertidos sexuais. Recentemente, tentou-se até argumentar que o cristianismo seria incompatível com posições políticas de esquerda. Bem o comunismo nao era “apadrinhado” pela igreja. No entanto, é possível encontrar na Bíblia passagens que poderiam inspirar uma revolução social urgente. Portanto, essa comparação, além de simplista, carece de sentido. É tudo que a esquerda gosta, propagar algo que não está bem claro e que eles jogam para o campo deles.
Neste momento, onde nuances e complexidades são ignoradas, e os adversários políticos são reduzidos a caricaturas infames, surge a notícia de que uma ex-companheira do filho do presidente Lula, o empresário Luís Cláudio Lula da Silva, o acusou de diversos tipos de agressão. Por decisão judicial, Luís Cláudio foi obrigado a manter distância de sua ex-namorada.
Sendo filho de um presidente da República, mesmo que não queira, é uma figura pública. Portanto, é surpreendente o silêncio daqueles que costumam ser bastante vocais em casos semelhantes e que normalmente clamam por investigação e punição, se necessário, para o acusado. Isso é o que seria esperado para manter coerência com o estágio civilizatório em que nos encontramos. No entanto, aparentemente, há um silêncio por parte daqueles que são ruidosos e um barulho vindo dos que normalmente permanecem em silêncio – dependendo do acusado. Como exercício de pensamento, imagine o que aconteceria se Carlos Bolsonaro fosse acusado da mesma forma que o filho do atual presidente.
A lição que pode ser aprendida deste caso envolvendo o filho de Lula, é o perigo de associar ideologia a caráter. Pode ser que sejam características pessoais que não têm relação com orientação política. Se a acusação for verdadeira – e as caricaturas dos direitistas forem precisas -, seria inevitável concluir que o filho do presidente Lula seria um seguidor de Bolsonaro. Isso, obviamente, não faz sentido, nem mesmo em uma peça escrita por Nelson Rodrigues.