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domingo, 22 setembro, 2024
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Desastre diplomático: Crise na Venezuela abala a imagem internacional do Governo Lula

Por Marina B.

A crise política na Venezuela está servindo como o principal teste para a política externa do governo Lula 3. A situação está expondo tanto a competência dos formuladores de políticas quanto a capacidade dos operadores de obter informações estratégicas baseadas em evidências concretas, e revela falhas no processo decisório regional. O desafio não se resume apenas à Venezuela, mas também à capacidade do Brasil de exercer liderança na América do Sul.

O Brasil cometeu sérios erros de avaliação quanto à complexidade da crise venezuelana. O primeiro foi a confiança antecipada concedida a Caracas, ao acreditar que a recepção calorosa a Nicolás Maduro em Brasília, em maio de 2023, garantiria uma vantagem na influência sobre os acontecimentos no país vizinho.

O segundo erro foi acreditar na boa-fé ou moderação de Maduro sem exigir compromissos firmes e contrapartidas desde o início.

Com o tempo, ficou evidente que Maduro não tinha intenção de deixar o poder. Sua estratégia de fraudar a eleição começou muito antes do pleito, com a prisão de opositores e a restrição de candidaturas, mostrando que os formuladores da política externa brasileira subestimaram tanto a capacidade de articulação da oposição quanto a disposição de Maduro para manter-se no poder a qualquer custo.

Os formuladores da política externa do Brasil se basearam erroneamente nos Acordos de Barbados como uma barreira contra o autoritarismo de Maduro. No entanto, Maduro, que não depende do Brasil como depende da China, Rússia e Cuba, usou Brasília para convencer os assessores presidenciais de Lula de que seu regime poderia vencer a eleição de maneira “idônea”.

A divisão no entorno do presidente foi clara: alguns acreditaram nas promessas de Maduro, enquanto outros preferiram sua vitória por razões geopolíticas mais amplas, vendo a eleição venezuelana como parte de uma disputa global entre a ordem liderada pelos EUA e aliados europeus versus a nova ordem proposta por China e Rússia.

Se o governo brasileiro acreditava que Maduro venceria sem fraude, os formuladores da política externa subestimaram a oposição venezuelana e pecaram por inocência ao imaginar uma transição pacífica de poder em caso de derrota.

Assim, enquanto o Brasil observava de longe e se envolvia em questões geopolíticas complexas como as guerras na Ucrânia e em Gaza, a crise na Venezuela passou a ser o foco principal, ameaçando a eficácia da política externa de Lula e a posição do país.

A crise venezuelana revela as limitações da liderança brasileira na resolução de conflitos regionais. A instabilidade na América do Sul é evidente, com crises institucionais no Peru, Equador, Bolívia e Venezuela, mostrando as dificuldades do Brasil em influenciar sua própria região.

A ideia de que o Brasil é o “líder natural” da América do Sul já não é mais válida. Liderar exige não apenas declarações de prioridade, mas também ações concretas e propostas de integração sérias. O Brasil precisa oferecer projetos reais para enfrentar problemas como crime organizado, colapso econômico, desemprego, crise climática, déficit democrático e desigualdade social.

O governo Bolsonaro não poupou críticas aos países sul-americanos, isolando o Brasil e adotando uma abordagem diplomática desastrosa com a Venezuela. A discussão sobre uma possível invasão militar e o fechamento da embaixada em Caracas foram atitudes insensatas.

Dialogar com ambos, o regime venezuelano e a oposição, é essencial. O Brasil não pode se afastar de um país vizinho em crise. Concessões de legitimidade a Maduro foram prematuras, e a proposta de uma tríade latino-americana entre Colômbia, México e Brasil deveria ter sido articulada antes das eleições.

Agora, com a vitória de Maduro sendo praticamente garantida, a crise política na Venezuela expõe a armadilha na qual o Brasil caiu. O governo Lula enfrenta um dilema: criticar a falta de transparência das eleições poderia alienar Maduro, enquanto reconhecê-las sem reservas compromete sua posição interna e internacional.

A visão ideológica dos formuladores da política externa brasileira pode estar guiando sua abordagem, mas é preciso avaliar se ela é suficiente para enfrentar as responsabilidades do Brasil tanto internamente quanto no cenário global.

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