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quarta-feira, 27 novembro, 2024
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Desânimo no Congresso: Governo Lula sem rumo e aliados inquietos

Por Marina B.

O isolamento do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as disputas internas e a ineficiente articulação política no Planalto estão causando desânimo entre aliados influentes no Congresso e na Esplanada em relação ao rumo do governo. Nos bastidores do Congresso, aliados de peso já exigem mudanças drásticas, começando pelo núcleo central do Palácio. Entretanto, no entorno de Lula, não há expectativa de que ocorram alterações antes das eleições municipais.

A devolução da Medida Provisória do PIS/Cofins pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), na semana passada, destacou novamente as falhas na articulação e agravou as tensões entre os ministros mais poderosos do governo: Rui Costa (Casa Civil) e Fernando Haddad (Fazenda).

Segundo fontes no Congresso, no Planalto e na Esplanada ouvidas pelo Valor, o episódio contribuiu para aumentar a sensação de falta de direção no governo e intensificou a disputa de poder entre Rui Costa e Haddad, enfraquecendo ainda mais o diálogo com o Legislativo.

Lula assinou a MP proposta por Haddad em 4 de junho, enquanto Rui Costa estava na China com o vice-presidente Geraldo Alckmin. Embora a medida tenha sido endossada pelo presidente, não contava com o apoio do setor privado, nem de Rui Costa e do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

A MP restringia o acesso a créditos tributários do PIS/Cofins para compensar os R$ 26 bilhões de desoneração da folha de pagamento, provocando reações adversas de setores como agronegócio e mercado de combustíveis.

Interlocutores admitem que Haddad enviou a MP sem consultar os empresários, numa tentativa de forçar uma solução, mas ficou insatisfeito com a forma como foi anulada. Por exemplo, o ministro soube pela imprensa da decisão de Lula de retirar a MP caso não fosse devolvida por Pacheco, após declarações de Ricardo Alban, presidente da CNI, durante um almoço na CNA.

Essa fala, ocorrida logo após uma reunião de Alban com Lula e Rui Costa, deu a impressão à equipe econômica de que foi planejada para prejudicar Haddad, com a participação de Rui Costa. Este último tem se queixado aos auxiliares que Haddad sempre o responsabiliza pelos problemas.

No Congresso, aliados em reserva manifestam perplexidade com a relação entre Haddad e Rui Costa, comparando a situação à maneira como Jean-Paul Prates foi afastado da presidência da Petrobras após desentendimentos com o PT, Rui Costa e Silveira.

A ausência de uma liderança central no governo tem gerado uma crise de confiança, deixando os parlamentares sem saber em quem confiar para apresentar demandas. Além disso, consideram prejudicial o rompimento entre o ministro das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Senadores com longa experiência afirmam que não têm acesso ao presidente nem são consultados para ajudar.

Há críticas veladas ao estilo de liderança de Lula nesta gestão atual, com alguns reclamando da falta de reuniões com deputados e senadores, mesmo que seja apenas para uma foto. No último encontro da CCJ, senadores comentaram a diminuição da presença parlamentar nos eventos do Palácio do Planalto, notando a falta de incentivo do governo, ao contrário do que ocorria no passado.

No Congresso, aliados acham difícil compreender a dinâmica entre Haddad e Rui Costa.

Recentemente, durante um café no plenário do Senado, o senador Omar Aziz (PSD-AM) brincou com Ciro Nogueira (PP-PI), atualmente bolsonarista: “O Lula quer falar contigo, Ciro”, ao que Nogueira respondeu: “Falar como? Ele nem usa celular!”.

Até os presidentes das Casas Legislativas precisam recorrer à primeira-dama, Janja da Silva, ou ao chefe de gabinete, Marco Aurélio Ribeiro, para falar com Lula, já que o presidente não tem celular.

Durante seus dois primeiros mandatos, entre 2003 e 2010, Lula contava com petistas históricos como José Dirceu e Antonio Palocci, habilidosos em negociações e articulações políticas. Hoje, no entanto, segundo aliados, não há figuras com esse perfil no Planalto, onde o presidente é referido não como “Lula”, mas como “senhor presidente”.

Lula costumava consultar mais os líderes parlamentares aliados, mas agora parece mais isolado, discutindo questões legislativas apenas com Rui Costa, Padilha e seus líderes no Congresso, sem ouvir outros.

A percepção no Planalto é que o presidente está mais focado na agenda internacional do que nos problemas políticos internos. Isso contrasta com os períodos anteriores de Lula, em que ele se envolvia diretamente na relação com o Congresso e na mediação de conflitos governamentais. Na opinião de aliados, essa postura prejudica ainda mais o governo, especialmente em um contexto de um Congresso fortalecido e predominantemente conservador, com controle sobre o Orçamento.

Além disso, aliados apontam a falta de uma “marca” clara para o governo atual, como o Bolsa Família no primeiro mandato de Lula ou o “espetáculo do crescimento” no segundo.

Até mesmo um importante parlamentar do PT reconhece que, na situação atual, o governo pode ser lembrado como indiferente em sua gestão.

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