Embora frequentemente critiquem o mercado financeiro, banqueiros e a política monetária do Banco Central, deputados da esquerda na Câmara Federal acumulam um patrimônio considerável aplicado em instrumentos do próprio sistema que atacam publicamente, conforme Cláudio Humberto publicou em sua coluna no Diário do Poder.
Somados, os investimentos declarados à Justiça Eleitoral pelos parlamentares dos partidos PSOL, PCdoB, Rede, PV, PSB e PT chegam a R$ 22,9 milhões, com destaque para o PSB, que lidera com R$ 17,1 milhões aplicados.
Investimentos diversificados e contraditórios
Entre os ativos mais comuns, os deputados utilizam recursos como ações, Tesouro Direto, fundos imobiliários e CDBs, que proporcionam rentabilidade elevada, especialmente com a taxa Selic em patamares altos. A contradição entre os discursos de oposição às políticas monetárias e a prática de investir no mercado tem levantado questionamentos sobre a coerência ideológica desses políticos.
Destaques por partido
- PSB: Com maior capital investido, os parlamentares “socialistas” do PSB totalizam R$ 17,1 milhões em aplicações financeiras.
- PT: Com R$ 3,3 milhões declarados, petistas como Benedita da Silva (R$ 555.976,78) demonstram que aproveitam bem o mercado. Parte significativa dos rendimentos desses investimentos está atrelada à Selic, frequentemente criticada por ser alta demais.
- PCdoB: Deputados como Alice Portugal (BA) declararam montantes menores, mas ainda assim participam do sistema financeiro, com R$ 7,8 mil investidos.
Ironias e apelidos
O comportamento de deputados de esquerda tem sido alvo de ironias nas redes sociais e na mídia. Termos como “comunista de iPhone” são usados para ilustrar o aparente descompasso entre a retórica contra o capitalismo e o benefício pessoal obtido do sistema. Alguns parlamentares foram listados em tom sarcástico, como:
- Renildo Calheiros (PCdoB-PE), com R$ 562 investidos.
- Márcio Jerry (PCdoB-MA), com R$ 80,2 mil aplicados.
Debate sobre coerência ideológica
O caso reforça um debate antigo sobre a relação entre discursos políticos e práticas pessoais. Para críticos, os investimentos enfraquecem a legitimidade das críticas ao capitalismo feitas por esses parlamentares. Defensores, no entanto, argumentam que o uso de ferramentas do sistema não impede a luta por mudanças estruturais.
De um lado, a participação no mercado financeiro pode ser vista como uma maneira de proteger patrimônio, algo comum em qualquer setor social. Por outro, as críticas à Selic alta e ao sistema financeiro como um todo podem parecer menos genuínas quando acompanhadas de investimentos que se beneficiam justamente dessas condições.
A questão, portanto, vai além dos números: expõe as tensões entre a ideologia e as práticas pessoais dos líderes políticos.