Requerimento do deputado Adilson Barroso (PL-SP) busca apurar visita de navios iranianos ao Brasil e o desaparecimento de ampolas de urânio em Resende (RJ)
O deputado federal Adilson Barroso (PL-SP) apresentou à Câmara dos Deputados um requerimento para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que visa investigar uma possível transferência de urânio do Brasil para o Irã, durante o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A motivação para o pedido é a visita de dois navios militares iranianos ao Brasil, entre fevereiro e março de 2023 — uma fragata e um cargueiro de grande porte —, episódio que causou incômodo nos Estados Unidos à época. A proposta da CPI foi reforçada pelo desaparecimento misterioso de ampolas com urânio enriquecido na Fábrica de Combustível Nuclear de Resende (RJ), alguns meses após a presença das embarcações iranianas em portos brasileiros.
“O requerimento foi protocolado e estamos colhendo as assinaturas dos parlamentares”, afirmou Barroso. Para que a comissão seja instaurada, são necessárias 171 assinaturas de deputados.
Suspeitas aumentam com sumiço de material nuclear
O desaparecimento de duas ampolas com urânio enriquecido, cada uma com cerca de 8 gramas de material e 4,25% de teor de enriquecimento, foi identificado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) durante uma inspeção de rotina. O material é considerado próprio para fins civis — como o abastecimento de usinas nucleares —, mas o caso segue sem explicações oficiais conclusivas.
Barroso afirma que, embora ainda não haja provas diretas, há uma série de indícios preocupantes que justificam a investigação. Entre eles, o histórico de fragilidade nos protocolos de segurança, a autorização dada aos navios iranianos para atracar em solo brasileiro, e a coincidência temporal entre a visita e o desaparecimento do material.
“Há indícios suficientes para justificar a CPI”, disse o deputado. “A presença desses navios, a precariedade de fiscalização e o desaparecimento de urânio apontam para a necessidade de uma apuração séria e profunda.”
O governo Lula nega qualquer envolvimento com o programa nuclear iraniano ou qualquer transferência de material sensível. Em nota, o Planalto afirmou que as amostras de urânio desaparecidas “não têm potencial bélico” e que sua utilização é restrita a fins civis, como previsto em tratados internacionais dos quais o Brasil é signatário.
Ainda assim, o episódio volta a colocar a política externa do governo Lula sob escrutínio, especialmente após gestos de aproximação com regimes criticados internacionalmente por violações de direitos humanos, como o Irã.
Vale lembrar que a visita dos navios iranianos já havia sido desaconselhada pelos Estados Unidos, tradicional aliado comercial e estratégico do Brasil. O atracamento das embarcações ocorreu pouco tempo antes da viagem de Lula a Washington, em 2023, gerando mal-estar diplomático.
Chances da CPI avançar
A instalação da CPI enfrenta entraves regimentais. A Câmara dos Deputados pode manter em funcionamento apenas cinco comissões parlamentares simultâneas. Caso obtenha as 171 assinaturas necessárias, a proposta ainda precisará aguardar sua vez na fila ou substituir alguma CPI em andamento.
Mesmo com dificuldades operacionais, a iniciativa de Barroso ganha força simbólica. Ela reforça um sentimento crescente entre parlamentares da oposição de que há falta de transparência e zelo com temas sensíveis no governo federal.
“Queremos apenas que a verdade venha à tona. Se não houve irregularidade, o governo terá a oportunidade de provar isso com clareza. Mas se houve omissão ou conivência, a CPI será o instrumento para responsabilizar os envolvidos”, finalizou o deputado.
A proposta de CPI para investigar o possível envio de urânio brasileiro ao Irã levanta sérias dúvidas sobre a segurança nuclear, a política externa e a integridade institucional sob o governo Lula. Mesmo que as suspeitas ainda careçam de provas robustas, a combinação de ações atípicas, falhas de controle e o silêncio das autoridades dá combustível à oposição — e impõe ao Planalto a necessidade de esclarecimentos públicos mais consistentes.