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sábado, 22 fevereiro, 2025
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Denúncia contra Bolsonaro omite contradições na delação de Mauro Cid, aponta Revista Oeste

Por Alexandre Gomes

A denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR) contra Jair Bolsonaro (PL) tem como peça-chave a delação do ex-ajudante de ordens Mauro Cid. No entanto, segundo a Revista Oeste, a acusação deixa de fora declarações que divergem da tese do suposto golpe de Estado.

Desde que firmou acordo de delação premiada em setembro de 2023, Cid mudou diversas vezes sua versão dos fatos. Em áudios vazados, ele chegou a afirmar que estava sendo pressionado a relatar eventos que não ocorreram. Posteriormente, diante da possibilidade de perder os benefícios da delação, ajustou seu depoimento para se alinhar às expectativas dos investigadores.

Contradições ignoradas pela PGR

A peça assinada pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, não menciona falas do ex-ajudante de ordens que poderiam enfraquecer a acusação contra Bolsonaro.

Um dos pontos centrais da denúncia é o plano “Punhal Verde Amarelo”, que incluiria supostas ações contra autoridades, incluindo Alexandre de Moraes, Lula e Geraldo Alckmin.

A PGR sustenta que Bolsonaro tinha ciência do plano e o autorizou. Essa alegação se baseia em mensagens trocadas entre Cid e o general Mário Fernandes, que menciona uma conversa com Bolsonaro. Segundo a acusação, o ex-presidente teria dito que “qualquer ação” poderia ser executada até 31 de dezembro de 2022.

Porém, Cid afirmou em depoimento não saber se Bolsonaro tinha conhecimento do documento, uma fala ignorada na denúncia.

“Eu não tenho ciência se o presidente sabia ou não do plano que foi tratado, do Punhal Verde Amarelo, e se o general Mário levou esse plano para ele ter ciência ou não”, declarou Cid à Polícia Federal (PF) em dezembro.

A PGR também omite um esclarecimento importante sobre o suposto monitoramento de Alexandre de Moraes. Cid declarou que Bolsonaro pediu informações sobre o ministro, mas não no contexto de uma operação criminosa, e sim porque queria verificar se Moraes estaria se reunindo com Hamilton Mourão.

Mensagens fora de contexto

A denúncia menciona trocas de mensagens entre Cid e militares, sugerindo que ele acompanhava os desdobramentos do plano. Um exemplo é um diálogo no dia 15 de dezembro de 2022, data em que a operação teria sido abortada:

  • Militar: “Opa” (21h05)
  • Cid: “Vou mudar de posição” (21h16)

A PGR interpreta essa troca como um indicativo de que Cid estava ciente do plano. No entanto, em sua delação, o ex-ajudante de ordens declarou que estava em uma área com sinal precário e não se comunicou com os militares naquele dia.

Além disso, a denúncia omite a fala de Cid sobre uma reunião entre militares em 28 de novembro de 2022, onde, segundo a acusação, se discutiu um documento para pressionar o comandante do Exército, Marco Antônio Freire Gomes, a aderir ao suposto golpe.

Cid negou essa interpretação, afirmando que não houve um plano concreto de ação, mas sim um ‘bate-papo de bar’ entre militares insatisfeitos com a eleição.

“Naquele momento, ninguém colocou um plano na mesa dizendo ‘vamos prender o Lula, matar alguém ou espionar autoridades’”, disse Cid em depoimento à PF.

Militares na mira e novas contradições ignoradas

A denúncia também envolve o general Estevam Theófilo, chefe do Comando de Operações Terrestres (Coter). A PGR alega que Theófilo estaria disposto a mobilizar tropas em favor de Bolsonaro, caso o então presidente assinasse um decreto de exceção.

Porém, nos últimos depoimentos, Cid afirmou que acreditava que Theófilo obedeceria ao Alto Comando do Exército e não passaria por cima da hierarquia.

“Se o presidente desse a ordem… Mas o problema é: eu não sei se ele passaria por cima do general Freire Gomes. As conversas que eu tive com ele eram de que ele não tomaria essa atitude.”

Outro ponto deixado de fora pela PGR envolve a interpretação equivocada de mensagens trocadas por Cid. Segundo a denúncia, algumas comunicações indicariam que o plano poderia seguir em curso mesmo após a posse de Lula. No entanto, Cid negou essa hipótese, afirmando que suas mensagens não tinham a conotação atribuída pela Polícia Federal.

“Bolsonaro não planejou os atos do 8 de janeiro. Nunca houve essa intenção”, disse Cid em um de seus depoimentos.

Conclusão

A denúncia contra Bolsonaro se apoia fortemente na delação de Mauro Cid, mas ignora declarações que poderiam enfraquecer a tese da acusação.

As mudanças de versão do ex-ajudante de ordens, bem como trechos de seus depoimentos que contrariam a narrativa do golpe, não foram mencionados pela PGR.

Diante disso, cresce a suspeita de que a denúncia pode estar sendo conduzida de maneira seletiva, considerando apenas os elementos que fortalecem a acusação contra o ex-presidente.

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