As contas das estatais brasileiras registraram um déficit recorde de R$ 6 bilhões em 2024, conforme dados do Banco Central (BC). Esse é o pior resultado desde o início da série histórica em 2009, abrangendo 44 estatais controladas diretamente pelo governo federal e 79 subsidiárias. Somente em novembro, o prejuízo somou R$ 1,6 bilhão.
Principais Estatais com Déficit
- Emgepron (projetos navais): R$ 2,49 bilhões
- Correios: R$ 2,2 bilhões
- Serpro (processamento de dados): R$ 590,4 milhões
- Infraero (gestão de aeroportos): R$ 541,8 milhões
Aumenta a Preocupação com Gestão
Especialistas apontam que o crescimento do déficit não se limita a fatores contábeis, mas também à falta de governança e à interferência política na gestão das empresas. Para o professor Sergio Sakurai, da USP Ribeirão Preto, o problema é especialmente grave em um contexto de dificuldades fiscais, pois aumenta a probabilidade de o Tesouro Nacional precisar cobrir os rombos.
“Essa situação coloca em xeque o papel social alegado para essas empresas, considerando o alto custo de sustentá-las”, afirma Sakurai.
Justificativa do Governo
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e a ministra da Gestão e Inovação, Esther Dweck, argumentam que parte do déficit se deve a investimentos feitos pelas estatais. Segundo Dweck, as injeções de recursos durante os governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro criaram superávits temporários que mascararam os desafios estruturais.
“Esses investimentos geraram déficits contábeis, mas não implicam necessariamente em prejuízos”, disse Haddad.
Correios: Três Anos no Vermelho
Os Correios registraram o segundo maior prejuízo de sua história em 2024, com déficits consecutivos desde 2022. Em outubro, a empresa adotou medidas emergenciais, como:
- Suspensão de contratações por 120 dias;
- Renegociação de aluguéis, com redução mínima de 10%;
- Fechamento de 38 agências e redução de estrutura em outras 19.
A estatal também apontou que a “taxa das blusinhas” — tributação de 20% sobre importações até US$ 50 — impactou suas receitas, resultando em uma queda de R$ 1 bilhão.
Embora o economista Cláudio Frischtak defenda a privatização dos Correios, essa opção foi retirada da pauta no primeiro dia do governo Lula 3.
Emgepron e Investimentos de Alto Custo
A Emgepron, responsável pela construção de navios, é emblemática dos desafios das estatais. A empresa começou em 2024 a construção de quatro fragatas e um navio polar, projetos que agravaram seus déficits. Críticos apontam que falta fiscalização sobre a qualidade e retorno desses investimentos.
Futuro das Estatais
Os números negativos reacenderam o debate sobre privatização e eficiência na gestão pública. Sem melhorias significativas na governança e maior transparência, especialistas alertam que os rombos nas contas públicas podem se aprofundar, aumentando a carga sobre os contribuintes e comprometendo a capacidade de investimento do governo em áreas prioritárias.