Em mais um episódio que expõe o amadorismo e o improviso do governo federal, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) demonstrou irritação com o vazamento de uma conversa considerada “confidencial” entre sua esposa, Janja da Silva, e o ditador chinês Xi Jinping, durante um jantar oficial na China. O episódio, revelado pelo G1 e detalhado pela Revista Oeste, causou constrangimento diplomático e evidenciou a crescente e controversa influência da primeira-dama em assuntos sensíveis do governo.
Segundo relatos, Janja tomou a palavra sem que houvesse previsão de falas e usou o momento para criticar o TikTok, rede social chinesa que, segundo ela, favoreceria conteúdos da direita no Brasil e contribuiria para o avanço da “extrema direita”. O gesto foi interpretado como um ato de despreparo diplomático, gerando desconforto na comitiva brasileira e incomodando os chineses.
Lula tenta mudar narrativa, mas não convence
Visivelmente incomodado, Lula afirmou nesta quarta-feira (14) que partiu dele a pergunta a Xi Jinping sobre a possibilidade de o governo chinês enviar um representante ao Brasil para debater “questões digitais”. Tentou minimizar a ação de Janja, dizendo que ela apenas comentou a situação das mulheres e das crianças nas redes. “A Janja pediu a palavra porque não é uma cidadã de segunda classe”, disse o presidente. “Ela entende mais de rede social do que eu.”
A fala, no entanto, soou como uma tentativa mal ensaiada de conter os danos provocados pela intervenção da primeira-dama — que nem sequer tem cargo oficial no governo, mas que, cada vez mais, participa ativamente de decisões e agendas públicas, inclusive em frentes internacionais.
Mais um ruído provocado por um governo desconectado
O governo Lula vem acumulando episódios de desorganização e ruídos diplomáticos. Este, em particular, expõe não só a falta de planejamento nas agendas internacionais, como também a tentativa de transferir responsabilidades institucionais para figuras não eleitas, como é o caso de Janja.
A insistência em dar protagonismo à esposa em assuntos como redes sociais e comunicação digital reforça críticas já frequentes à personalização do poder no entorno de Lula e ao esvaziamento técnico do governo, que age com base em impulsos, ideologia e improviso — inclusive na frente internacional.
China: resposta curta e direta
A resposta do ditador chinês, Xi Jinping, foi interpretada como uma recusa sutil a se envolver em disputas políticas internas do Brasil: “O Brasil tem autonomia para regular ou até banir o TikTok”, disse, colocando o ônus da decisão nas mãos do governo brasileiro e evitando se comprometer com os apelos da comitiva petista.
Para críticos, a fala de Janja foi inoportuna, desnecessária e comprometedora. “Foi constrangedor. Não havia espaço para esse tipo de intervenção. Ela simplesmente decidiu falar, sem ser chamada e em um momento inadequado”, comentou um ministro sob condição de anonimato, segundo apuração da imprensa.
Um governo que fala em democracia, mas se aproxima de ditaduras
A situação também levanta questões sobre as alianças internacionais que o governo Lula insiste em estreitar. Enquanto discursa em defesa da democracia no Brasil, o presidente mantém proximidade com regimes autoritários como os da Venezuela, de Cuba e da própria China — ignorando contradições óbvias entre o discurso democrático e a prática geopolítica.
No final das contas, a viagem que deveria reforçar a relação comercial com o maior parceiro econômico do Brasil foi marcada por mais uma trapalhada política protagonizada por um governo que, mesmo em seu terceiro mandato, parece ainda não ter compreendido os limites institucionais e o papel da liturgia do cargo.
A crescente participação de Janja em temas de Estado, o despreparo para lidar com situações diplomáticas delicadas e a tentativa constante de terceirizar responsabilidades escancaram um governo centralizador, confuso e cada vez mais desconectado da realidade política, institucional e econômica do país.