Lula em silêncio e preocupações no mercado: Qual o modelo ideal de gestão para a Petrobras?
A turbulência no governo federal, que teve início com as disputas entre o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, se intensificou ao longo da última semana, chegando ao ponto de se antecipar a saída iminente do executivo que lidera a estatal.
Já há nomes cotados para suceder Prates, incluindo Aloizio Mercadante, atual presidente do BNDES; Magda Chambriard, ex-diretora-geral da ANP; Clarice Copetti, diretora de assuntos corporativos da Petrobras; e Bruno Moretti, secretário de análise governamental da Casa Civil.
Apesar do histórico de confrontos entre duas figuras-chave do governo, a forma pública e polêmica com que a troca de comando na maior estatal do país está sendo tratada está gerando preocupação no mercado e reacendendo o debate sobre a gestão ideal para a Petrobras: estatal ou empresarial?
A situação atual revela que não se enquadra em nenhum dos dois modelos. O governo dita as regras, decide a distribuição de lucros e quem assume o controle da empresa. Por outro lado, o presidente Lula ainda não se pronunciou sobre o conflito entre o ministro e o executivo, nem sobre as informações vazadas sobre a saída de Prates, o que é de grande relevância para o mercado nacional e internacional, dada a natureza da Petrobras como uma empresa com negócios, parceiros e acionistas.
Essa conduta afasta potenciais investimentos devido à incerteza sobre o futuro da empresa. “Essa sensação de instabilidade é prejudicial. Os investidores internacionais seguram seus investimentos aqui. No mercado interno, a confusão é ainda maior, pois afeta não apenas o mercado de petróleo: as pessoas retiram dinheiro da bolsa, o que se reflete na inflação”, avalia Armando Cavanha, consultor em petróleo e gás e professor da PUC-Rio.
Ele argumenta que a empresa deveria ser gerida de forma mais independente, com base em métricas de desempenho, e não como uma instituição política.
Essa é a mesma opinião do ex-presidente do Banco Central e ex-ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Durante um evento em São Paulo, ele afirmou que a Petrobras deve ser administrada como uma empresa, considerando que o governo não é o único acionista, conforme reportado pelo Valor.
Por outro lado, o diretor e fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), Adriano Pires, critica a posição de economia mista da empresa e defende uma escolha clara entre privatização ou estatização, destacando que a última opção, com intervenção política, é um equívoco.
Uma possível solução alternativa envolve a nomeação de Mercadante como presidente do Conselho de Administração da Petrobras, mantendo Prates como CEO, visto como um bom gestor pelo mercado. Isso seria uma tentativa de evitar mudanças drásticas e manter a estabilidade operacional. Essa decisão está nas mãos do presidente Lula.
Apesar de Prates e Silveira terem se comprometido a cessar hostilidades, o conflito persiste. Silveira reconheceu os debates acalorados, mas se esquivou de avaliar o comando da Petrobras, deixando a decisão para o presidente.
Lula deve discutir o assunto com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Especialistas apontam que essa discussão pode ser uma estratégia para desviar a atenção dos problemas energéticos reais. Enquanto o embate na cúpula do governo continua e o presidente se mantém em silêncio, outros eventos importantes, como a distribuição de dividendos extraordinários da Petrobras e o escândalo envolvendo a Enel, perdem destaque. A Enel está sob investigação devido a apagões consecutivos e corre o risco de perder a concessão.