À medida que o Brasil se aproxima do ano eleitoral, o governo Lula entra em seu momento mais delicado desde o início do mandato. Os sinais sucessivos de deterioração econômica, somados ao acúmulo de crises políticas e de gestão, vêm ampliando o desgaste do Planalto e alimentando uma crescente desconfiança do eleitorado — sentimento já detectado nas principais pesquisas nacionais.
A sequência de episódios negativos começou no fim de outubro, com a megaoperação policial no Rio de Janeiro, que recolocou a segurança pública, historicamente um ponto frágil para a esquerda, no centro do debate nacional. De lá para cá, o governo enfrenta uma tempestade política e econômica que ameaça a estratégia da reeleição.
As pesquisas mostram que o período de recuperação da popularidade de Lula, observado de junho a outubro, perdeu força. O impulso momentâneo obtido com a retórica contra o tarifaço imposto pelos EUA evaporou rapidamente. E, no lugar, instalou-se uma percepção crescente de estagnação econômica, improviso administrativo e falta de controle sobre temas cruciais.
Problemas na realização da COP 30, marcada por desorganização, críticas internacionais e até incêndio em Belém adicionaram mais desgaste à imagem do governo em um evento que deveria projetar liderança e competência.
Juros altos freiam o PIB e endividamento das famílias bate recorde
Os dados econômicos mais recentes reforçam a deterioração.
No dia 17, o Banco Central divulgou o IBC-Br, prévia do PIB, que mostrou queda de 0,9% no 3º trimestre. A equipe econômica culpou a Selic a 15% ao ano, maior patamar desde 2006, mas analistas destacam que a falta de disciplina fiscal do governo Lula impede qualquer alívio consistente nos juros, o que trava investimento, consumo e emprego.
O cenário das famílias é ainda mais duro:
- 80% dos lares brasileiros estão endividados, o maior índice já registrado.
- 30,5% das famílias têm dívidas em atraso.
- 13,2% dizem não ter condições de pagar o que devem.
Na prática, o endividamento avançou mais rápido do que a renda, e o crédito ficou mais caro. O consumo desacelera, afetando indústria e comércio, enquanto o risco de inadimplência pressiona bancos e encarece ainda mais os financiamentos.
No mercado de trabalho, os sinais também mudaram para pior.
Em outubro, foram criadas apenas 85,1 mil vagas formais, queda de 35% em relação ao mesmo mês de 2024 e pior resultado desde 2020.
A indústria já projeta retração: o índice de expectativa de demanda da CNI caiu de 52,5 para 51,3 pontos, pior novembro desde 2016.
Além disso:
- Emprego industrial caiu para 49,1 pontos.
- Expectativa de exportações caiu para 48 pontos.
Todos abaixo da linha de estabilidade.
CPMI do INSS, megaoperações e COP 30 adicionam turbulência política
No plano político, o ambiente é igualmente adverso.
A nova fase da Operação Sem Desconto prendeu o ex-presidente do INSS e expôs fraudes bilionárias na Previdência.
O caso reacende questionamentos sobre gestão, aparelhamento político e falta de controle interno, temas sensíveis para o governo.
A operação impulsionou a CPMI do INSS, fortalecendo a oposição e desgastando ainda mais o Planalto.
Na COP 30, o governo acumulou constrangimentos:
pavilhão incendiado, críticas à estrutura, caos logístico e gastos elevados, ao menos R$ 787,2 milhões.
O episódio virou munição para críticas internas e internacionais sobre a capacidade organizacional do governo Lula.
Especialistas apontam falhas na resposta do governo
Segundo o cientista político Antônio Flávio Testa, o governo tentou reagir, mas fracassou.
Nem mesmo a tentativa de redirecionar o foco nacional para o julgamento eleitoral do governador do Rio, Cláudio Castro, teve efeito.
“A população aplaudiu a megaoperação, e Lula ficou fora da narrativa que dominou o país”, afirmou Testa.
Ao mesmo tempo, o governador anunciou novas operações contra o crime organizado, reforçando o contraste entre ação estadual e hesitação federal.
As negociações do PL Antifacção também expuseram divisões internas, ruído político e insatisfação generalizada.
No campo econômico, Testa aponta que muitos dados “não podem mais ser maquiados pela comunicação oficial”, especialmente diante da possibilidade de que Fernando Haddad deixe o governo em abril para disputar as eleições de 2026, cenário que ampliaria ainda mais a incerteza fiscal.
Cresce o espaço para a oposição e para o campo conservador
Para Juan Carlos Arruda, do Ranking dos Políticos, o governo enfrenta agora um terreno mais hostil:
- segurança pública virou prioridade absoluta;
- economia perde força;
- escândalos e falhas administrativas se acumulam;
- a confiança do eleitor moderado se deteriora.
Nesse ambiente, o campo conservador, liderado por Jair Bolsonaro, o ,maior líder político do Brasil, avança sobre o espaço perdido.
A narrativa de firmeza contra o crime, controle de gastos, ordem, soberania nacional e eficiência administrativa volta a ganhar força na opinião pública.
Pesquisas apontam retomada da queda na aprovação do governo
Grandes institutos, Quaest, Paraná Pesquisas e Futura Inteligência, registraram estagnação ou queda na aprovação presidencial.
Quaest
- 50% desaprovam
- 47% aprovam
Primeira queda desde maio.
Paraná Pesquisas
- 45,9% aprovam
- 50,9% desaprovam
Tendência de erosão gradual, mas constante.
O tema da segurança pública, reacendido pela megaoperação no Rio, foi apontado como o principal motor da mudança recente no humor do eleitor.
Com economia fraca, juros altos, inadimplência recorde, falhas de gestão, escândalos, desgaste internacional e ascensão do debate sobre segurança, tema historicamente desfavorável à esquerda, o governo Lula chega às vésperas do ano eleitoral no seu momento mais vulnerável.
A percepção crescente é de que o Planalto perdeu o controle da narrativa e da economia.
E, nesse vácuo, a oposição cresce, ganha visibilidade e consolida terreno para 2026.