O depoimento de Cícero Marcelino de Souza Santos à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS confirmou que ele abriu empresas para prestar serviços à Conafer (Confederação Nacional dos Agricultores Familiares e Empreendedores Familiares Rurais). Segundo o presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), o próprio depoente “na prática reconheceu que recebeu o dinheiro e o repassou”.
R$ 300 milhões movimentados por empresas do depoente
Durante o interrogatório, o relator deputado Alfredo Gaspar (União-AL) afirmou que a Conafer repassou cerca de R$ 300 milhões às empresas de Cícero e de sua esposa. O depoente confirmou as movimentações, dizendo que o valor se devia ao grande volume de pagamentos feitos a pedido da confederação.
Cícero, no entanto, negou ser “laranja” ou envolvido diretamente no esquema de fraudes e afirmou que rompeu relações com a Conafer, negando qualquer participação em irregularidades. Ele declarou ainda que não sabia que os recursos movimentados eram ilícitos e que apenas cumpria funções de consultoria.
Renda e atuação como “consultor”
Antes da operação Sem Desconto, da Polícia Federal, Cícero relatou que recebia R$ 120 mil mensais pelos serviços prestados à Conafer, embora sua renda anterior fosse de cerca de R$ 7 mil. Disse que atuava como um “consultor que resolve de tudo”, responsável por pagamentos a funcionários, fornecedores e despesas com veículos e viagens da confederação.
Questionado pela senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), Cícero afirmou não saber por que foi convocado e que não se preparou para o depoimento. Thronicke, porém, classificou o caso como “uma organização criminosa”, cobrando ressarcimento dos cofres públicos.
Suspeitas de lavagem e pressão política
O senador Izalci Lucas (PL-DF) defendeu que a Receita Federal investigue as empresas ligadas a Cícero, suspeitando de lavagem de dinheiro. Já o senador Eduardo Girão (Novo-CE) destacou que o esquema envolvia “gente graúda” e sugeriu que Cícero fosse ouvido em sessão secreta, para garantir segurança e mais detalhes sobre os repasses.
Cícero confirmou ter feito pagamentos em nome da Conafer e admitiu que valores também passaram por familiares de sua esposa, alegando que eram utilizados para despesas particulares.
Pressões e novas convocações
Encerrando a sessão, Carlos Viana afirmou que a CPMI sofre pressões e tentativas de abafar a investigação, mas que os documentos já comprovam desvios bilionários de recursos de aposentados e pensionistas.
Segundo Viana, 97% dos descontos foram ilegais, conforme relatório da Controladoria-Geral da União (CGU). Ele também criticou a proteção política a nomes próximos ao governo, citando o irmão de Lula, Frei Chico, vice-presidente do Sindnapi, como exemplo.
O senador anunciou que pedirá sessão reservada para tratar de repasse de valores ainda sob sigilo, reforçando que a comissão seguirá investigando o que chamou de “o maior escândalo contra aposentados da história do Brasil”.