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sexta-feira, 29 novembro, 2024
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Como o PCC infiltrou-se nas eleições de São Paulo através de empresas de ônibus

Por Marina B.


Cinco alvos da Operação Fim da Linha, que investiga possíveis vínculos entre duas empresas de ônibus de São Paulo e a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), realizaram contribuições financeiras para o diretório municipal do antigo DEM, à época liderado pelo presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), e para um ex-vereador do PT durante as eleições de 2020. Os políticos afirmam que todas as doações foram devidamente declaradas e não há irregularidades.

Entre os doadores sob investigação pelo Ministério Público (MP) estão o presidente da Transwolff, Luiz Carlos Efigênio Pacheco, conhecido como “Pandora”, e o diretor da Cooperpam, Robson Flares Lopes Pontes. Ambos foram detidos preventivamente na última terça-feira, 9 de abril. O MP acusa as duas empresas de estarem envolvidas em um esquema de lavagem de dinheiro relacionado ao tráfico de drogas na capital paulista. Outra empresa supostamente implicada é a UPBus, que foi sujeita a intervenção pela Prefeitura de São Paulo.

Dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) revelam que “Pandora” contribuiu com R$ 75 mil para a campanha de reeleição do vereador Antonio Donato (PT) em 2020, que atualmente ocupa o cargo de deputado estadual em São Paulo. Quatro anos antes, Donato também recebeu uma doação de R$ 10 mil de Jeová Santos da Silva, outro indivíduo denunciado pelo MP. Donato é um dos coordenadores de campanha do pré-candidato a prefeito Guilherme Boulos (Psol), que conta com o apoio do PT na disputa.

Em uma declaração, o deputado afirmou que foi abordado por Pacheco antes das eleições de 2020, quando este expressou interesse em fazer uma doação para um candidato de oposição. Donato acrescentou que a doação em questão foi feita legalmente e devidamente registrada na Justiça Eleitoral.

Além disso, outros investigados fizeram doações para o diretório municipal do Democratas, partido que mais tarde se fundiu com o PSL para formar o União Brasil. Na época, o diretório era presidido por Milton Leite, atual presidente da Câmara de São Paulo e um dos principais aliados do prefeito Ricardo Nunes (MDB). Leite assina os recibos de grande parte dos recursos que entraram no caixa do partido naquele ano.

O antigo DEM da cidade de São Paulo recebeu contribuições de R$ 50 mil de Moisés Gomes Pinto e R$ 40 mil de Cícero de Oliveira, ambos sócios da Transwolff e alvos das investigações do MP, que foram afastados da diretoria da empresa por ordem judicial. A sigla também recebeu R$ 20 mil de Jeová Santos da Silva e mais R$ 15 mil de Robson Flares Lopes Pontes, que atualmente está detido aguardando o desenrolar das investigações.

Milton Leite justificou que todas as doações de campanha ao partido foram feitas legalmente e declaradas à Justiça Eleitoral, que as considerou regulares. Ele ressaltou que sócios da mesma empresa fizeram doações para outros candidatos e partidos políticos, incluindo o PT.

O DEM também recebeu uma quantia significativa de R$ 60 mil de Edimar Martins Silva, que está sob investigação como suspeito de agir como “laranja” da empresa na suposta organização criminosa. Apesar de não estar na lista de 29 denunciados pelo Ministério Público, Edimar teve seus bens bloqueados. A grande quantia destinada ao partido chamou a atenção do MP, especialmente considerando que o investigado não possui patrimônio compatível com uma doação desse valor.

Outras pessoas associadas à Transwolff também contribuíram para o partido liderado por Leite, como Abraão Machado da Silva, Eric Colla e Helena Cristina Reis Magela, embora não tenham sido mencionadas diretamente na denúncia apresentada pelo MP. Considerando todas essas doações, o total recebido pelo DEM naquele ano chega a R$ 210 mil.

A análise da prestação de contas apresentada pelo antigo DEM ao TSE indica que o dinheiro das doações foi direcionado para as contas de alguns candidatos específicos. Um deles é o vereador Adilson Amadeu (União Brasil), que recebeu uma contribuição de R$ 50 mil proveniente de Moisés Gomes Pinto.

Amadeu afirmou que o dinheiro foi repassado para sua campanha pelo partido de forma indireta e que todas as doações foram públicas, contabilizadas e respeitaram a legislação vigente.

O jornalista Marcelo Elias Cury recebeu o montante de R$ 15 mil de Robson Pontes, da Cooperpam, e outros R$ 30 mil de Edimar, metade do valor total doado por ele ao partido, em sua conta de campanha. Cury concorreu sob o apelido de “Xerife Marcelo Cury” e recebeu apenas 965 votos. Ele não foi localizado pela reportagem.

O presidente da Câmara, Milton Leite, recebeu R$ 300 mil do diretório municipal do DEM naquela eleição, mas o recurso foi declarado como proveniente do fundo partidário, e não das doações de campanha. A vereadora Sandra Tadeu (PL), que recebeu R$ 115 mil da representação do partido na cidade, está na mesma situação. Além de Milton, Sandra e Adilson, o partido também elegeu Ricardo Teixeira e Eli Corrêa (União Brasil) naquele pleito; os cinco cumprem mandato na Casa.

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