A Comissão de Relações Exteriores e de Defesa Nacional (CREDN) da Câmara dos Deputados divulgou nota nesta segunda-feira (24) criticando duramente a postura do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em relação aos recentes bombardeios dos Estados Unidos contra instalações nucleares no Irã. A comissão classificou a posição do Brasil como “lamentável”, acusando o governo petista de manter um alinhamento ideológico com regimes autoritários e de adotar dois pesos e duas medidas na diplomacia internacional.
No último domingo (22), o Itamaraty condenou os ataques norte-americanos, assim como já havia feito dias antes ao criticar ações de Israel contra centros de enriquecimento de urânio em solo iraniano. Em ambas as ocasiões, o governo brasileiro reiterou que tais operações seriam “violações à soberania iraniana” e contrárias ao direito internacional.
CREDN vê “omissão” diante de terrorismo financiado pelo Irã
O presidente da comissão, deputado Filipe Barros (PL-PR), foi enfático nas críticas. Segundo ele, o governo Lula tem se mostrado “diligente para condenar Israel e os EUA”, mas “omisso para reconhecer como terroristas organizações financiadas pelo Irã”, como o Hezbollah e outras milícias ligadas ao regime iraniano.
“O ataque dos Estados Unidos foi corajoso e necessário. A destruição do programa nuclear iraniano é desejada por boa parte do mundo livre. A postura do Itamaraty rompe com a tradição de neutralidade e equilíbrio da diplomacia brasileira”, afirmou Barros.
A comissão informou que irá incluir na pauta de sua próxima reunião uma moção de apoio a Israel, em resposta à condenação brasileira ao ataque realizado por Tel Aviv contra estruturas iranianas.
Polêmica sobre urânio e pedido de audiência pública
O deputado Filipe Barros também protocolou um pedido de audiência pública para discutir supostas denúncias sobre o desaparecimento de urânio no Brasil e a possibilidade de envio do material ao Irã. A alegação circula em redes sociais e cita a escala de navios iranianos no porto do Rio de Janeiro em 2023 como ponto de partida para a suspeita.
A Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN) e as Indústrias Nucleares do Brasil (INB) negaram qualquer irregularidade. Em nota, afirmaram que o Brasil nunca exportou urânio ao Irã, e que todo o material é destinado prioritariamente à Eletronuclear, dentro das normas estabelecidas pelo Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), ao qual o país é signatário desde 1998.
“O Brasil defende o uso pacífico da energia nuclear e rejeita qualquer forma de proliferação, especialmente em regiões instáveis como o Oriente Médio”, afirmou o Itamaraty na nota oficial divulgada no domingo (22).
A tensão entre o Executivo e a Comissão de Relações Exteriores evidencia um racha político nas interpretações sobre a posição internacional do Brasil. Para a base aliada do governo, a diplomacia brasileira apenas reafirma princípios históricos de não intervenção, enquanto para a oposição, o Palácio do Planalto estaria se alinhando a regimes antidemocráticos, em detrimento das alianças tradicionais com nações ocidentais.
O episódio pode ampliar o debate sobre os rumos da política externa brasileira, especialmente diante de conflitos geopolíticos de alta complexidade como o da região do Golfo Pérsico e os desdobramentos entre Irã, Estados Unidos e Israel.