A proposta de Celso Amorim para uma nova eleição na Venezuela, apresentada ao presidente Lula e mencionada em conversas com ministros, é alarmante e revela uma desorientação preocupante por parte do governo brasileiro. Após uma série de erros, a diplomacia de Lula parece ter mergulhado em uma crise de desatino.
Depois de elogiar Maduro em Brasília, os esforços diplomáticos de Lula nas eleições venezuelanas foram um fracasso retumbante. O acordo de Barbados, mediado pelo Brasil, prometia eleições livres e limpas sob a supervisão de observadores internacionais. No entanto, essas promessas foram abandonadas antes do pleito, enquanto o presidente brasileiro insistia em declarações ineficazes, tentando minimizar a situação com palavras vazias.
O governo brasileiro está dando a impressão de que sua influência na região é muito maior do que realmente é. Como apontou Hussein Kalout na Folha, a ideia de que o Brasil é o “líder natural” do continente é desprovida de fundamento.
Mesmo o governo progressista do Chile foi mais crítico em relação a Maduro e não hesitou em denunciar a fraude eleitoral que se tornou evidente logo após a votação. A postura inicial do Itamaraty, que pedia a apresentação das atas pelo Conselho Nacional Eleitoral, rapidamente se desajustou com a realidade. Maduro ignorou o pedido brasileiro, apoiado pela Colômbia e pelo México, que também se afastou da posição.
A proposta de repetir as eleições na Venezuela foi ridicularizada e virou motivo de piada local. A publicação satírica “El Chiguire Bipolar” ironizou a sugestão com a manchete: “Brasil propõe repetir eleições até que Maduro ganhe”.
O governo brasileiro, orientado pela visão terceiromundista de Amorim, não parece preocupado com o desrespeito aos direitos humanos e à integridade eleitoral, desde que o país vizinho se alinhe com o Sul Global contra a aliança ocidental.
Embora o Brasil possa ainda tentar intermediar alguma negociação com Maduro, a possibilidade é remota. Será difícil que o mandatário venezuelano ceda sem forte pressão, uma estratégia que o Itamaraty não demonstra estar disposto a seguir.
Até agora, a crise na Venezuela tem contribuído para diminuir a influência do Brasil e prejudicar a imagem de Lula, tanto internamente quanto no cenário internacional.
Diante desse cenário, a ambição inicial de Lula de se posicionar como mediador do conflito entre Rússia e Ucrânia parece ainda mais ilusória. O presidente parece confiar demais em sua habilidade de negociação, quando na verdade deveria adotar uma abordagem mais realista e focada nos interesses regionais, evitando estratégias fantasiosas para alterar a geopolítica global.