Mensagens apreendidas pela Polícia Federal indicam que Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, tentou articular no Ministério da Saúde um acordo para fornecimento de produtos à base de canabidiol ao Sistema Único de Saúde (SUS), sem processo licitatório. A iniciativa teria sido conduzida por meio da empresa World Cannabis.
Em 6 de novembro de 2024, o lobista enviou mensagem a um contato afirmando: “Berger já está com aquela orientação em mãos”. A referência seria a Swedenberger do Nascimento Barbosa, então secretário-executivo do Ministério da Saúde e atualmente integrante do gabinete do presidente da República.
As informações apontam ainda o envolvimento da empresária Roberta Luchsinger, próxima de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. Registros indicam que ela acompanhou o lobista em reuniões no ministério e participou da articulação relacionada à cannabis medicinal.
Agenda recorrente no Ministério da Saúde
A agenda pública de Swedenberger registra que o lobista esteve no Ministério da Saúde ao menos cinco vezes entre março de 2024 e fevereiro de 2025. Em nota, o governo afirmou que os encontros foram visitas institucionais e que não resultaram em qualquer processo de compra.
O então secretário-executivo deixou o cargo em março, quando Alexandre Padilha assumiu o comando da pasta no lugar de Nísia Trindade. Em mensagens atribuídas ao lobista, ele chegou a antecipar a troca no ministério e afirmou que “nossos projetos foram assumidos pelo novo ministro”.
O Ministério da Saúde declarou que o canabidiol não está incorporado ao SUS e que não existe processo ativo para sua inclusão ou aquisição.
PF investiga Roberta Luchsinger
No curso da investigação, a Polícia Federal identificou mensagens em que Roberta Luchsinger pede ao lobista que se desvincule formalmente de empresas e sugere que ele descarte aparelhos telefônicos. Apesar disso, o material foi apreendido.
A PF apura repasses financeiros que somariam cerca de R$ 1,5 milhão feitos pelo lobista à empresária. Em uma das transferências, ele teria indicado que o dinheiro seria destinado a “o filho do rapaz”, expressão que levantou suspeitas entre os investigadores.
O lobista foi preso em nova fase da Operação Sem Desconto, que apura fraudes envolvendo descontos indevidos em benefícios do INSS. Em depoimento à CPMI do INSS, ele confirmou ter mantido negócios com Roberta Luchsinger, mas afirmou que a consultoria “não prosperou”.