Durante a recente visita do presidente Emmanuel Macron ao Brasil, os governos brasileiro e francês se encontraram em desacordo, especialmente em relação a um assunto crucial. Enquanto Macron cumpria os rituais diplomáticos habituais, como passear de barco na Amazônia e se reunir com líderes empresariais, as divergências entre os presidentes ficaram evidentes quando o assunto central entrou em pauta.
O presidente Lula defende que o acordo comercial abrangente discutido há duas décadas com a Europa, visando ampliar o acesso dos produtos brasileiros aos mercados europeus, deveria ser firmado imediatamente. Por outro lado, Macron declarou publicamente que o mesmo acordo é “péssimo” e que ele não colocaria sua assinatura nele.
Existem propostas brasileiras que são difíceis de aceitar para os países europeus, como a exclusão de empresas estrangeiras de compras realizadas pelo governo brasileiro. No entanto, muitas dessas questões podem ser renegociadas. A verdadeira dificuldade, na prática, reside não tanto nas políticas industriais, mas sim na crescente resistência dos países ricos a uma mudança estratégica, especialmente diante da robusta e cada vez mais competitiva produção agrícola brasileira.
Há algumas décadas, o Brasil não era um grande produtor mundial de alimentos, mas hoje figura entre os maiores, exportando itens vitais como soja, milho e carnes. Essa transformação mudou o jogo e alterou a percepção do Primeiro Mundo em relação ao Brasil.
Um aspecto central desse embate está na crescente dificuldade dos países europeus em lidar com suas próprias agriculturas e agricultores. A legislação muitas vezes restritiva, que ano após ano agride, encarece e criminaliza a produção rural europeia, torna a atividade no campo um verdadeiro pesadelo burocrático. A imposição de regras por burocratas desconectados da realidade agrícola apenas agrava essa situação.
A eficiência da produção agrícola brasileira amplifica essas dificuldades, especialmente diante das alegações de que o país deveria cumprir as mesmas exigências ambientais para exportar alimentos para a Europa. Essa discordância torna ainda mais improvável a concretização de um acordo entre as partes.
