O ex-presidente Jair Bolsonaro voltou a se manifestar com força nas redes sociais nesta semana, após o governo Lula sofrer uma derrota histórica no Congresso Nacional. Com 383 votos contrários, a Câmara dos Deputados barrou o decreto do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que pretendia aumentar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras), revertendo um processo de desoneração iniciado no governo anterior.
A votação — superior até ao quórum necessário para um impeachment — representou um duro golpe político ao governo petista, e foi comemorada publicamente por Bolsonaro, que resgatou em sua conta oficial no X (antigo Twitter) a política de redução de tributos adotada durante seu mandato.
“Redução de IOF começou no meu governo. O povo brasileiro merece respeito e mais liberdade econômica, não mais impostos”, escreveu Bolsonaro, destacando a iniciativa que previa o fim gradual da cobrança sobre operações de câmbio a partir de 3 de janeiro de 2024, com alíquota então fixada em 3,38%.
Ataque direto ao governo Lula: “Chega de mentira!”
Poucos minutos depois da publicação econômica, o ex-presidente subiu o tom e partiu para o ataque direto contra o governo atual:
“Parem de tratar o povo como idiota. Ninguém aguenta mais tanta mentira e irresponsabilidade!”, escreveu, sem citar nomes, mas claramente mirando Lula e Haddad.
O recado ecoa a narrativa central do bolsonarismo, que acusa o governo petista de maquiar dados econômicos, impor agendas ideológicas e recorrer à propaganda para ocultar medidas impopulares, como a alta de impostos e o aumento da carga sobre o setor produtivo.
Vitória liberal no Congresso expõe isolamento do governo
A derrota no caso do IOF não foi apenas simbólica. Com 383 votos a 98, a medida do governo foi considerada até mesmo por parte da base aliada como injustificável, em um momento de inflação controlada e crescimento modesto. A tentativa de elevar tributos, segundo críticos, colocaria em risco a recuperação econômica e afetaria diretamente empresas e trabalhadores.
O placar elástico também expôs a fragilidade da articulação política do Palácio do Planalto e acendeu alertas sobre a coesão da base governista. Como lembrou o deputado Maurício Marcon (Podemos-RS), “a oposição nunca havia alcançado 383 votos. Impeachment precisa de 342”.
Bolsonaro com capital político em alta
Bolsonaro mantém grande influência no debate público e nas redes sociais. Seus seguidores replicaram as postagens com entusiasmo, reforçando a percepção de que ele segue sendo o principal nome da oposição ao governo Lula, mesmo fora da presidência e enfrentando uma série de ações na Justiça.
A narrativa construída nas redes aponta para a continuidade de uma agenda liberal e conservadora, que seria ameaçada pelo “projeto autoritário e fiscalmente irresponsável do PT”, segundo bolsonaristas.
Bolsonaro também prepara o terreno político para as eleições de 2026, seja como candidato ou como cabo eleitoral. A estratégia segue clara: apontar os erros do governo Lula, fortalecer sua base e manter a polarização viva.
A rejeição da proposta de Haddad, somada às críticas de Bolsonaro, deixa claro que a política tributária será um dos eixos centrais da disputa presidencial futura. E, mais uma vez, o debate público se dividirá entre duas visões opostas: a do aumento do Estado e da intervenção econômica, defendida por petistas, e a da liberdade econômica com redução de impostos e do peso estatal, defendida por Bolsonaro e seus aliados.