O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Luís Roberto Barroso, tornou-se alvo de críticas nesta sexta-feira, 30, após editorial do jornal O Estado de S. Paulo questionar sua postura em relação a recentes interações com empresários, especialmente em meio à tramitação de processos sensíveis na Corte.
O editorial condena a participação de Barroso em um evento social onde aparece cantando e confraternizando com empresários, entre eles Diego Barreto, presidente do iFood. A empresa está diretamente envolvida em processos que tramitam no STF, como o que discute o reconhecimento de vínculo empregatício entre entregadores e plataformas de aplicativos. Para o jornal, essa proximidade compromete a imagem de imparcialidade que se espera da magistratura.
Embora o jantar tenha tido como propósito a celebração do Programa de Ação Afirmativa para Ingresso na Magistratura — iniciativa do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) em parceria com a FGV e a Universidade Zumbi dos Palmares —, o Estadão afirma que o problema “não é o conteúdo, mas a forma”. Segundo o jornal, é incompatível com a função institucional do presidente do STF estar em confraternizações com empresários diretamente interessados em decisões da Corte.
A crítica se amplia com a reação do próprio Barroso às reportagens. O ministro teria reagido com irritação à divulgação do vídeo, classificando a repercussão como reflexo da “incultura” predominante no Brasil, expressão utilizada durante a abertura da sessão do CNJ na última terça-feira, 27. Para o Estadão, essa reação demonstra despreparo diante do escrutínio público, algo inerente à função pública exercida.
A Aliança Nacional dos Entregadores por Aplicativos também se posicionou, lembrando que “à mulher de César não basta ser honesta, tem de parecer honesta”, cobrando de Barroso uma postura institucional à altura da presidência do STF: “Deve se recompor e voltar ao seu trabalho, que é o de ser guardião da Constituição Federal da República, a Constituição Cidadã.”
O Estadão encerra seu editorial afirmando que, se Barroso deseja de fato servir à República, deve trocar os “sarais eivados de conflitos de interesse pelo silêncio institucional” e demonstrar respeito aos limites e à liturgia do cargo que ocupa. A crítica sugere que a preservação da credibilidade do Supremo exige não apenas decisões justas, mas também comportamentos que transmitam imparcialidade e distanciamento de interesses privados.