Especialistas consultados destacam que os áudios nos quais o tenente-coronel Mauro Cid aponta um possível induzimento de sua colaboração para as investigações contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, poderiam ser usados pela defesa dos investigados para anular provas. Além disso, eles enfatizam a necessidade de uma investigação mais aprofundada por parte do Ministério Público Federal, sobre a conduta da Polícia Federal no caso. Essa é a opinião de criminalistas ouvidos pela reportagem após a revelação dos áudios pela revista Veja na semana passada.
Mauro Cid mencionou nos áudios, que os delegados da PF que o interrogaram, tentaram induzi-lo a falar sobre eventos que ele não presenciou e que já tinham uma narrativa pronta. Ele também relatou supostas pressões dos delegados, que o alertaram sobre penas de até 30 anos de prisão caso não confirmasse a “narrativa” desejada. Além disso, criticou a atuação do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, no caso.
Os áudios trouxeram à tona uma série de investigações contra Bolsonaro, incluindo a falsificação de um cartão de vacina contra a Covid, disseminação de informações falsas, apropriação de presentes valiosos e suposta tentativa de golpe de Estado.
Após a divulgação dos áudios, Cid foi preso por ordem de Moraes. No entanto, ao depor no STF, ele negou ter sido coagido e afirmou ter colaborado livremente. Especialistas destacam que a voluntariedade é requisito para uma delação premiada, e qualquer sinal de coação deve ser investigado, pois poderia levar à anulação das provas obtidas a partir da colaboração.
Alguns membros do MPF sugerem que a PGR deveria investigar a conduta da PF nos interrogatórios, e apontam a importância de verificar vídeos dos depoimentos para entender a postura dos policiais. Ainda, destacam que a prisão de Cid pode configurar pressão indevida, o que poderia levar à revisão da delação.
No entanto, a decisão que determinou a prisão preventiva de Cid permanece sigilosa, e não se sabe exatamente o que motivou a medida.