O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) vem sendo duramente criticado por sua inação diante do escândalo revelado pela operação “Sem Desconto”, da Polícia Federal, que expôs um esquema de descontos ilegais em aposentadorias e pensões do INSS. Em editorial, o jornal O Estado de S. Paulo classificou o governo como “atordoado e incapaz” de reagir à altura da crise — e com razão.
No centro do problema está a ausência de respostas concretas por parte do Palácio do Planalto. Nem a demissão imediata do então ministro da Previdência, Carlos Lupi, foi considerada, apesar de sua omissão deliberada diante de denúncias graves. Lupi foi alertado ainda em junho de 2023 sobre o aumento de queixas de descontos indevidos, mas atuou para abafar a discussão até abril de 2024, meses depois.
Pior: em vez de se afastar dos nomes envolvidos, Lula nomeou Wolney Queiroz, braço-direito de Lupi, como novo titular da pasta. Queiroz, como deputado, coassinou uma emenda que fragilizou os mecanismos de controle dos débitos em folha, criando as condições para a proliferação das fraudes. Ou seja, premiou quem ajudou a abrir a porta para o golpe.
Para o Estadão, essa escolha evidencia que o governo prefere proteger seus “companheiros sindicalistas” e aliados políticos a defender os verdadeiros prejudicados: os milhões de aposentados e pensionistas que tiveram seus benefícios saqueados sem consentimento.
Enquanto isso, o prejuízo causado por entidades aliadas ao petismo — como a Contag, a Unaspub e o Sindnapi — já chega a R$ 6,5 bilhões. Essas mesmas entidades seguem ocupando assentos em conselhos estratégicos do governo Lula, participando de debates sobre políticas públicas, mesmo sob investigação da CGU e da PF.
A inação do governo — e a relutância em afastar os responsáveis — não é apenas sinal de incompetência. É uma demonstração clara de cumplicidade política com um sistema aparelhado e corrompido, que usa os aposentados como massa de manobra para financiar sindicatos e garantir apoio partidário.
O editorial do Estadão foi certeiro ao afirmar que Lula só age conforme seus interesses políticos, e que os aposentados só recebem atenção na medida de sua utilidade eleitoral. Até agora, não houve plano claro de devolução dos valores roubados, nem transparência sobre os prazos e mecanismos de ressarcimento. O governo “de volta para o povo”, na prática, virou as costas para ele.
Se Lula deseja preservar qualquer resquício de credibilidade moral, deveria começar por demitir toda a cúpula da Previdência Social e romper laços com entidades acusadas de roubo institucionalizado. Qualquer coisa abaixo disso é passar pano para um esquema criminoso e humilhar ainda mais quem trabalhou a vida inteira para se aposentar com dignidade.