O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva enfrenta uma crescente crise de articulação política e descontentamento interno após sucessivas derrotas no Congresso Nacional. O reflexo do desgaste ficou evidente em declaração anônima de um assessor do próprio Palácio do Planalto, publicada no blog do jornalista Lauro Jardim, de O Globo, neste fim de semana.
“Aqui, há um clima de apatia com as derrotas recentes no Congresso. A sensação geral é de busca de rumo. Como se o governo estivesse procurando uma bala de prata para dar uma virada”, disse o servidor.
O relato revela o ambiente de frustração e desorientação nos bastidores do governo petista, que sofre para consolidar uma base estável na Câmara e no Senado, mesmo após ter cedido ministérios e cargos estratégicos a partidos do centrão.
Derrotas acumuladas e aliados insatisfeitos
A fragilidade ficou ainda mais exposta nas últimas semanas, com votações adversas e reveses simbólicos. Partidos como PP, Republicanos, PSD e União Brasil, que juntos lideram oito ministérios e representam 39% do Congresso, foram protagonistas em movimentos de dissidência, votando ao lado da oposição em pautas sensíveis ao Planalto.
Entre os episódios recentes:
- Aprovação do regime de urgência para o projeto que suspende o aumento do IOF, com 346 votos favoráveis e apenas 97 contrários;
- Derrubada de vetos presidenciais importantes;
- Crescimento das ameaças de reavaliação da presença no governo, especialmente por parte do PP e União Brasil, diante da iminente oficialização da federação União Progressista (UP) no TSE.
Ruptura silenciosa e cobrança por emendas
O estopim para o clima de rebeldia no Congresso parece ter sido a demora na liberação de emendas parlamentares. Dos R$ 50,3 bilhões previstos para 2025, o Executivo liberou apenas R$ 5 milhões, com cerca de R$ 775 milhões empenhados — números que líderes do centrão consideram inaceitáveis diante dos compromissos assumidos.
O resultado: pressão velada, ameaças de esvaziamento da base e uma articulação cada vez mais frágil. Sem coordenação eficaz, o Planalto assiste à formação de maiorias volúveis e imprevisíveis, mesmo em pautas prioritárias do governo.
Governo sem rumo e Congresso hostil
Apesar de ter ampliado sua presença na Esplanada com o objetivo de pacificar a base, o governo Lula parece ter subestimado a dinâmica do Congresso atual, onde partidos tradicionais se movem por interesses regionais, orçamentários e estratégicos, e não mais por alinhamento ideológico.
A avaliação de integrantes do Legislativo é clara: não há clima político para aumento de impostos, e o uso de medidas impopulares para fechar as contas pode gerar ainda mais desgaste ao Executivo — tanto na opinião pública quanto dentro do Congresso.
A crítica de seu próprio assessor evidencia um Palácio do Planalto sem direção clara, à espera de um milagre — ou de uma “bala de prata” — para reverter o cenário.