Desgastes internos, falta de protagonismo e entraves políticos minam atuação da ministra Simone Tebet; pasta acumula frustrações e perde nomes-chave
O Ministério do Planejamento e Orçamento, sob o comando da ministra Simone Tebet (MDB), atravessa uma crise silenciosa e profunda.
Em pouco mais de dois anos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cinco dos seis secretários de alto escalão nomeados por Tebet já deixaram o cargo — sinal de esvaziamento político e técnico de uma das pastas mais estratégicas da Esplanada dos Ministérios.
A debandada, classificada nos bastidores como um “apagão gerencial”, revela não apenas descontentamentos individuais, mas uma insatisfação generalizada com a dinâmica de governo.
A mais recente baixa, confirmada nesta semana, foi a de Sérgio Firpo, responsável pela área de Monitoramento e Avaliação. Ele se junta a Renata Amaral (Assuntos Internacionais), Leany Lemos (Planejamento), Paulo Bijos (Orçamento) e Totó Parente (Relações Institucionais) — todos já fora do time original montado por Tebet.
Imediatismo e isolamento político
Entre as razões das saídas, apontam-se frustrações com a dificuldade de transformar diagnósticos e propostas em políticas públicas efetivas. Técnicos do MPO reclamam de um ambiente de “imediatismo” dentro do Palácio do Planalto, onde agendas estruturantes de médio e longo prazo perdem espaço para medidas de apelo popular e decisões centralizadas no núcleo duro do governo.
Apesar do reconhecimento interno da autonomia técnica dada por Tebet à sua equipe, o ministério tem sofrido com falta de prestígio político. Isolada do centro de decisões estratégicas — dominado por nomes como Gleisi Hoffmann (PT), Rui Costa e Fernando Haddad —, a ministra não consegue projetar sua agenda nem romper o cerco de um presidencialismo de coalizão cada vez mais dominado pelo pragmatismo e pela lógica da governabilidade a qualquer custo.
Para onde foram?
Os caminhos dos ex-secretários revelam diferentes desfechos. Renata Amaral assumiu posto no Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Leany Lemos foi para o setor privado, e Paulo Bijos voltou à Câmara dos Deputados. Totó Parente alegou motivos pessoais. Firpo, segundo fontes próximas, já demonstrava há meses frustração com o ritmo lento das mudanças e a dificuldade em implementar revisões de impacto.
Crítica à condução política de Lula
A crise no Planejamento expõe uma contradição no discurso de Lula sobre reconstrução do Estado e planejamento de longo prazo. Enquanto o presidente insiste em retomar investimentos e modernizar a administração pública, seu governo falha em empoderar uma das áreas centrais para essa missão.
A concentração de poder e decisões em um grupo restrito de aliados políticos — frequentemente mais voltado à articulação partidária do que à gestão — mina os esforços de ministros técnicos e contribui para o esvaziamento de pastas fundamentais.
Simone Tebet, que em 2022 foi “vista” como símbolo de diálogo entre forças políticas diversas, hoje enfrenta o desafio de continuar relevante em um governo que privilegia fidelidade política em detrimento da pluralidade e do planejamento estratégico.