Deputada afirma ter recebido centenas de relatos de manifestantes presos: “Nós daremos voz a essas pessoas”
A líder da minoria na Câmara dos Deputados, Carol De Toni (PL-SC), entregou nesta terça-feira (1º) ao presidente da Casa, Hugo Motta (Republicanos-PB), um conjunto simbólico de oito cartas escritas por presos do 8 de janeiro de 2023. O gesto marca um novo apelo da oposição pela votação do projeto de lei que propõe a anistia aos manifestantes detidos.
Segundo Carol, as cartas representam apenas uma parte de mais de 200 relatos recebidos por seu gabinete nos últimos meses. “São testemunhos fidedignos da vida dessas pessoas que têm enfrentado uma das maiores arbitrariedades da justiça brasileira”, afirmou a deputada em discurso na tribuna.
“Se esses brasileiros e brasileiras não estão tendo voz nos autos do processo devido às arbitrariedades, nós, nessa tribuna, daremos voz a essas pessoas. Porque são vidas humanas que importam”, disse.
Relato emocionado de um pai de família
Durante o pronunciamento, a parlamentar compartilhou a carta de Gilvair, um dos presos do 8 de janeiro, atualmente reencarcerado no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. O homem de 51 anos contou ter sido sentenciado a 14 anos e 8 meses de prisão e descreveu o sofrimento de estar afastado da família, especialmente dos três filhos menores.
“Minha filha faz 15 anos e eu não pude nem lhe dar um abraço, nem tampouco fazer a festinha, nem ter dançado com ela — algo que tanto sonhávamos”, escreveu Gilvair. “Hoje estou aqui, encarcerado, por crime de manifestação. Enquanto isso, vi um homem sair pela porta da frente após um ano de prisão, mesmo tendo tirado três vidas inocentes.”
O preso ainda relatou ter sido submetido a medidas mais rigorosas que as impostas a condenados por crimes violentos, mesmo durante o período em que esteve em prisão domiciliar com tornozeleira eletrônica.
“Todas as segundas-feiras eu tinha que assinar carteirinha. Funcionários do fórum riam de mim. Nem bandidos que mataram, roubaram ou estupraram cumpriam essa rotina semanal. Mas eu, por manifestar, sim.”
Apelo por justiça e humanidade
Ao final da carta, Gilvair fez um apelo direto ao Congresso: “Não se trata de política, mas sim de justiça e humanidade.” O clamor foi reforçado por Carol De Toni, que ressaltou a urgência de votar o PL da Anistia como resposta institucional ao que classificou como “um excesso do sistema judicial”.
A entrega das cartas a Hugo Motta ocorre em meio à pressão crescente da oposição para que a anistia entre na pauta do plenário. Nos bastidores, parlamentares do PL, como Sóstenes Cavalcante, intensificam o movimento de obstrução e buscam apoio em outras bancadas para viabilizar o requerimento de urgência.
“Esses relatos precisam ecoar por esta Casa e pelo Brasil”, disse Carol. “É nosso dever como representantes do povo garantir que a Justiça não seja usada como instrumento de vingança.”