Presidente se afasta de exposição pública enquanto governo enfrenta escândalos e tensão com a base aliada
Em meio a uma semana turbulenta marcada por investigações sobre fraudes bilionárias no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) e dificuldades de articulação política, aliados do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) adotaram o silêncio como estratégia. Mesmo com o agravamento da crise no governo, não houve críticas públicas ao petista, que também optou por se ausentar das celebrações do 1º de Maio em São Paulo — um feito inédito neste terceiro mandato.
A ausência de Lula nas comemorações do Dia do Trabalho chamou atenção por sua simbologia. Historicamente ligado ao movimento sindical, o presidente sempre participou de atos na data, especialmente os promovidos pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e centrais sindicais. Neste ano, contudo, Lula decidiu não comparecer ao evento na zona norte da capital paulista, cuja organização foi marcada por críticas internas e baixa expectativa de público.
Isolamento estratégico
Segundo interlocutores próximos ao Planalto, a escolha de Lula foi pensada para evitar um novo desgaste público, como o ocorrido em 2024, quando o evento do Dia do Trabalho em Itaquera teve adesão muito abaixo do esperado. Na ocasião, o próprio presidente reclamou da mobilização fraca.
Diante da atual conjuntura, que inclui também a queda do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e o desgaste do ministro da Previdência, Carlos Lupi (PDT), a equipe presidencial tem adotado uma estratégia clara: blindar Lula das responsabilidades diretas. Internamente, o presidente avalia os riscos de demitir Lupi e provocar a saída do PDT da base governista no Congresso — o partido conta com 17 deputados e três senadores.
Crise ampliada por impasse político
A tensão aumentou ainda mais com o recuo do deputado Pedro Lucas Fernandes (União Brasil-MA), que desistiu de assumir o Ministério das Comunicações apenas 12 dias após o anúncio. A situação escancarou a dificuldade do governo em consolidar sua base e indicou uma instabilidade crescente nas articulações com o Centrão.
Apesar da crise, parlamentares aliados têm evitado críticas diretas ao presidente. Sindicalistas também preferiram manter uma postura de cautela, lembrando que Lula recebeu representantes das centrais em Brasília dias antes do evento. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), no entanto, criticou a realização do ato deste ano com sorteios e estrutura comercial, optando por não participar da organização.
Imagem em disputa para 2026
A avaliação interna no governo é de que Lula precisa preservar sua imagem e evitar novos desgastes com a opinião pública, principalmente mirando a disputa eleitoral de 2026. Mesmo com apoio parcial do Centrão atualmente, não há garantia de que essa base se mantenha coesa no futuro.
Neste cenário de fragilidade, o presidente caminha com cautela, tentando evitar novos embates e resistências dentro e fora do Congresso. A ordem entre aliados é clara: evitar ruídos, preservar o líder e conter os danos