O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) parece cada vez mais distante da realidade política do Congresso Nacional., aponta Cláudio Humberto, em sua coluna no jornal Diário do Poder.
Desde o início de 2025, Lula não recebeu um único deputado federal ou senador em audiência privada para tratar de articulações institucionais, como sempre foi praxe no presidencialismo de coalizão — modelo que o próprio petista ajudou a consolidar nos mandatos anteriores.
A postura tem causado estranheza, até mesmo entre aliados. Parlamentares, inclusive do próprio Partido dos Trabalhadores, reclamam do que chamam de “Lula alheio”: um presidente desinteressado, apático e completamente desconectado da articulação política.
Segundo dados da agenda presidencial, em 2025 Lula só se reuniu oficialmente com quatro deputados e cinco senadores — um número considerado ínfimo para o atual cenário de derrotas recorrentes do governo no Congresso. Em 2024, esse número já era baixo, mas piorou ainda mais este ano.
O senador Sergio Moro (União Brasil-PR), ex-ministro da Justiça e ex-juiz da Lava Jato, foi direto ao comentar o isolamento do petista:
“A conduta de Lula demonstra sinais de senilidade. Há uma desconexão evidente com as instituições, com o País e com o momento político que vivemos”, afirmou.
Para Moro, o comportamento do presidente explica a crescente perda de relevância de Lula, tanto no cenário nacional quanto internacional.
Recebe só aliados e ignora até governadores
Levantamento mostra que os poucos parlamentares recebidos por Lula em 2024 são todos do PT, à exceção de Arthur Lira (PP-AL), então presidente da Câmara dos Deputados. Ou seja, nenhum parlamentar da base ampla ou da oposição teve espaço para diálogo direto com o chefe do Executivo.
A negligência se estende aos próprios governadores, inclusive de partidos aliados. Lula só se reuniu com Helder Barbalho (MDB-PA), em abril — e mesmo assim, segundo fontes do Planalto, o encontro se deu apenas por causa da COP30, evento ambiental que ocorrerá em Belém.
Cristina Kirchner teve mais atenção que o Congresso
O contraste mais gritante do ano, segundo parlamentares ouvidos reservadamente, foi o tratamento dado à ex-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, condenada por corrupção em seu país. Ela teve mais tempo reservado em conversas privadas com Lula do que toda a bancada do Congresso Nacional junta. A visita da aliada argentina foi marcada por longos encontros, jantares e discursos afetuosos.
“Enquanto o Congresso nacional é ignorado, Lula dedica horas a condenados da esquerda latino-americana”, ironizou um deputado do Centrão.
Lula se queixa, mas não se mexe
Apesar do isolamento, Lula tem se queixado constantemente das derrotas sofridas pelo governo no Congresso, como a derrubada do aumento do IOF e a aprovação de projetos que desagradam ao Planalto. A incoerência entre a queixa e a omissão é alvo de críticas mesmo entre aliados.
“Não dá para reclamar do Congresso sem nem tentar conversar com ele”, afirmou um senador da base.
O cenário, segundo líderes partidários, é de esgotamento político precoce do terceiro mandato de Lula, marcado por desconexão institucional, falta de diálogo e crescente rejeição parlamentar. A avaliação é que, se o Planalto não mudar o tom — e rapidamente —, as derrotas em série devem se intensificar.
O Lula de 2025 está longe de ser o articulador político habilidoso do passado. O presidente que antes se gabava de sua habilidade em “fazer política com os diferentes” agora fecha as portas, se isola no Planalto e ainda culpa os outros pelo próprio fracasso. Enquanto isso, a base do governo se desmobiliza, o Congresso avança com pautas independentes e o Brasil fica sem rumo claro.
Se continuar assim, o governo Lula pode se tornar refém da própria omissão.