A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS recebe nesta semana o depoimento da advogada Tonia Andrea Inocentini Galleti, ex-membro do Conselho Nacional de Previdência Social (CNPS) e coordenadora jurídica do Sindicato Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos (Sindnapi). Ela é filha de João Batista Inocentini, fundador da entidade.
De acordo com documentos da própria CPMI, Tonia teria participado da equipe de transição do governo Lula e, já no início de 2023, teria alertado pessoalmente o então ministro da Previdência, Carlos Lupi, sobre irregularidades envolvendo descontos indevidos nos benefícios de aposentados.
Durante uma reunião realizada em janeiro de 2023, Tonia teria apresentado informações detalhadas sobre as cobranças não autorizadas que afetavam milhares de segurados em todo o Brasil. Ainda segundo seu relato, Lupi se comprometeu a investigar o caso, mas nenhuma ação concreta teria sido tomada desde então.
Convocação e expectativa do depoimento
A convocação de Tonia foi proposta pela senadora Damares Alves (Republicanos-DF), que considerou o depoimento essencial diante da gravidade do esquema investigado pela Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. A operação revelou prejuízos estimados em até R$ 6,3 bilhões entre 2023 e 2024, causados por descontos irregulares e uso de biometria paralela — um sistema clandestino que teria permitido o acesso indevido aos dados dos aposentados.
“Existem sinais de que autoridades estavam cientes das fraudes, mas nada fizeram”, declarou Damares ao justificar o requerimento. “A presença de Tonia é crucial para promover a transparência e restaurar a confiança da população no sistema previdenciário.”
O senador Izalci Lucas (PL-DF) também defendeu a convocação e disse que o depoimento pode ser decisivo para demonstrar uma possível omissão do governo diante dos alertas formais. Ele criticou a falta de investigações sobre o Sindnapi, que movimentou cerca de R$ 600 milhões e teve valores bloqueados pela Justiça.
“Parece que houve favorecimento indevido com base em informações do INSS”, afirmou o senador. “É fundamental descobrir quem permitiu esse acesso e quem se manteve em silêncio.”
Possíveis impactos do depoimento
O testemunho de Tonia Galleti deve lançar luz sobre como o CNPS tratou internamente as denúncias, e se houve interferência política para impedir investigações ou auditorias. A CPMI também busca rastrear possíveis vínculos financeiros entre sindicatos e empresas de tecnologia envolvidas no esquema.
Para Izalci, o depoimento da advogada pode ser um ponto de virada nas investigações:
“Se ficar comprovado que houve alerta ignorado, o impacto político será muito maior.”